Estadão

Juros sobem com alta do petróleo, dólar, Treasuries e risco fiscal

Os juros percorreram a terça-feira pressionados para cima pelo câmbio, pelos Treasuries, pelo petróleo e pelo cenário doméstico cheio de incertezas. Perto do fim da sessão, as taxas longas chegaram a zerar a alta e voltar aos ajustes de segunda-feira, mas todas acabaram fechando com viés de alta. Não se tratou exatamente de uma melhora, mas sim de ajustes técnicos considerando os elevados níveis de prêmio de risco acumulados na curva. Na estendida, porém, voltavam a ganhar força. Os sinais de estagflação e crise energética global, a proximidade do tapering nos Estados Unidos e, aqui, o pessimismo com inflação, atividade e cenário fiscal não autorizam alívio mais consistente nas taxas. A falta de apetite pelo risco traduziu-se ainda no resultado do leilão de NTN-B, em que a oferta de títulos longos não teve demanda integral.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 9,25%, de 9,21% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 terminou em 10,27%, de 10,225%. A do DI para janeiro de 2027 subiu de 10,613% para 10,65%.

O quadro de alta do dólar, da taxa da T-Note de dez anos – que nesta terça voltou a 1,53% – e dos preços do petróleo, que na segunda já influenciava a curva, nesta terça se manteve, mas o estrago nos DIs, já muito machucados, foi mais comedido.

"A curva já tem muito prêmio de risco", disse o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, lembrando que os DIs precificam Selic de 9,5% já no começo de 2022.

"Hoje os juros até tentaram subir na hora do leilão, mas o pré parece que achou um teto. Falta só a inflação ceder um pouco, mas está difícil", diz um gestor, destacando que os preços do petróleo em reais não dão trégua.

O Tesouro ofertou 1,950 milhão de NTN-B, a maior parte no lote para 2026 (1,5 milhão) vendida integralmente. Da oferta de 300 mil para 2030, vendeu 277.250 e, na NTN-B 2055, colocou 118.050, do lote de 150 mil.

Os cenários tanto lá fora quanto aqui devem manter certa rigidez na curva, na medida em que os problemas demandam soluções de caráter estrutural que levam algum tempo para se consolidar. Os choques de oferta ficaram evidentes na Pesquisa Industrial Mensal (PIM) de agosto divulgada pela manhã, levando a indústria a registrar queda de 0,7% ante julho, mais pronunciada do que a apontava a mediana das estimativas da pesquisa do Projeções Broadcast (-0,4%). Ante agosto de 2020, houve retração de 0,7%, ante mediana negativa de 0,1%, após 11 meses de alta na comparação interanual.

A questão dos precatórios segue sem definição e as esperanças na agenda de reforma vão se esvaindo a partir de sinalizações como a do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Pela manhã, ele evitou se comprometer com a aprovação da PEC 110 neste ano.

Pacheco ainda sinalizou para a equipe econômica para não contar com o projeto da reforma do Imposto de Renda como fonte de receita para assegurar o programa Auxílio Brasil. "Não é recomendável apostar fichas."

E listou uma série de outras opções para o financiamento, como Refis, repatriação de recursos e arrecadação com atualização de ativos. E admitiu que o Congresso pode discutir a prorrogação do auxílio emergencial.

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