Os juros futuros terminaram a sessão desta terça-feira em alta firme nos vencimentos longos e moderada nos curtos, descolados da queda do dólar e do retorno dos Treasuries. Mesmo considerada mais "hawkish" (dura) do que o esperado pelos analistas, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) não conseguiu reduzir a inclinação da curva. O desenho da curva é atribuído ao aumento das preocupações com o cenário fiscal conforme vão piorando os números da covid-19 no Brasil, na medida em que, segundo a leitura da ata, a pandemia parece preocupar o BC mais pelo lado fiscal do que pelo lado da atividade.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a etapa regular em 4,675%, de 4,615% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 7,735% para 7,91%. O DI para janeiro de janeiro de 2027 fechou com taxa de 8,43%, de 8,224%.
Logo após a decisão do Copom, profissionais da área de renda fixa alertavam para o fato de que a desinclinação da curva tinha uma sustentação frágil em meio aos crescentes riscos fiscais e políticos, mesmo com o Copom sinalizando postura mais agressiva.
Na ata, o Copom já antecipou que, sem alterações no atual balanço de riscos, pretende subir a Selic novamente em 0,75 ponto porcentual na reunião de 4 e 5 de maio. Cita uma estratégia de ajuste mais célere como forma de evitar colocar em xeque a meta de inflação de 2021 e garantir o cumprimento em 2022.
Com respeito à pandemia, avaliou que os riscos fiscais de curto prazo seguem elevados devido ao agravamento, o que coloca um viés de alta nas suas projeções para a inflação. Ao mesmo tempo, uma eventual "reversão econômica" causada pelo recrudescimento da pandemia deve levar a uma queda da atividade "bem menos profunda" que a observada em 2020.
"A leitura do mercado é a de que o BC está operando o risco fiscal e não somente a inflação. E quando olhamos para as contas públicas o cenário é desanimador", afirma o trader de renda fixa da Sicredi Asset Danilo Alencar. Ele lembra que o calendário para as reformas está "cada vez mais curto", com a proximidade do período eleitoral.
Para o Itaú Unibanco, a ata apresentou um tom "claramente altista para os próximos movimentos de juros". "As autoridades continuam otimistas com a recuperação da economia, apesar da grave piora da situação da pandemia no país, e indicam que, a despeito da taxa de desemprego elevada, enxergam redução mais rápida do que a que era prevista para o hiato do produto", afirmam os economistas do banco.
E o noticiário da pandemia segue alarmante nesta terça-feira com recorde no número de mortes (1.021) em 24 horas em São Paulo e relatos de que o Centro de Contingência ao Coronavírus do Estado vai propor ao governado João Doria a prorrogação da fase emergencial por mais 15 dias. O sistema de saúde no Brasil se mantém em estado crítico, com esgotamento nos leitos de UTI disponíveis e falta de equipamentos e oxigênio.
Nesta terça, o Ministério da Saúde mudou novamente o cronograma de entrega vacinas e espera, agora, receber cerca de 9 milhões de doses a menos em abril do modelo AstraZeneca/Oxford, envasado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Nesse contexto, cresce a pressão por mais medidas fiscais para atenuar o choque, como por exemplo valor maior do que os R$ 250 do tíquete médio para o auxilio emergencial.