Estadão

Juros sobem com exterior após discurso hawkish de dirigentes do Fed

Os juros fecharam a terça-feira em alta expressiva, influenciados pelas forças do cenário externo, com destaque para as falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), consideradas ainda mais "hawkish" do ponto de vista das restrições de liquidez a serem adotadas pelos Estados Unidos no combate à inflação. As declarações catapultaram os rendimentos dos Treasuries e fortaleceram o dólar, levando a reboque a curva doméstica, cujas taxas subiram durante todo o dia.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a sessão regular na máxima de 12,715% (12,625% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 11,825% para 12,000%. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou na máxima de 11,335%, de 11,094% na segunda-feira, e a do DI para janeiro de 2027, e 11,085%, de 10,854%.

O gestor de renda fixa da Warren, Bruno Martins, explica que a curva vinha fechando bem sob a percepção de que a política monetária restritiva do Banco Central já começou a ter efeito, mas nesta terça o risco externo se impôs, com o discurso mais firme do Fed. "A pressão vinda das commodities como efeito da guerra é algo que o BC pode manejar via juros, mas o Fed é uma variável difícil de controlar", disse Martins, para quem a autoridade monetária brasileira pode ter de esperar por um cenário mais claro do plano de voo do Fed. "Parece que vai se formando um consenso em torno da dose de alta de 50 pontos-base nos EUA", completou.

A terça-feira contou com discursos vistos como "hawkish" de vários dirigentes, nesta véspera da divulgação da ata do Fed. Um dos que mais chamaram a atenção foi o da indicada a vice-presidente do Fed, Lael Brainard. Segundo ela, a instituição "continuará a apertar a política monetária de modo metódico, com uma série de altas nos juros". Disse ainda que o balanço do Fed deve ser reduzido "de modo consideravelmente mais rápido agora", em comparação com processos anteriores do tipo.

"Embora este cenário de ajuste monetário mais intenso já esteja em processo de precificação, o tom duro de uma dirigente considerada dovish chama a atenção dos mercados, sugerindo que o Federal Reserve não hesitará em adotar medidas contundentes para reverter o atual quadro de fortes pressões inflacionárias", escreveu o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.

Como resultado, a curva dos Treasuries teve forte abertura. No fim do dia, o yield da T-Note de 2 anos batia 2,518% e o da de 10 anos, 2,553%, de 2,41% para ambos na véspera. O dólar teve alta generalizada. No Brasil, a moeda subiu 1,11%, a R$ 4,6591.

Internamente, a agenda da segunda e da terça tem sido forçosamente esvaziada pela greve dos funcionários do Banco Central que, segundo profissionais da área de renda fixa, não faz preço diretamente sobre os ativos, mas tem merecido atenção. No Tesouro, servidores decidiram prosseguir com a operação-padrão e o sindicato da categoria alertou sobre o risco para os leilões de títulos públicos.

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