Os juros futuros fecharam a sessão em alta, pressionado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio acima do esperado e, na segunda parte do dia, pesaram ainda a piora do câmbio e a cautela com o índice de inflação ao consumidor (CPI, em inglês) nos Estados Unidos na quinta-feira. O IPCA não chegou a mexer com a precificação de Selic para o Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima quarta-feira na curva, que aponta aumento de 0,75 ponto porcentual. Mas elevou o conservadorismo nas apostas para as reuniões seguintes, assim como colocou em xeque a manutenção do termo "parcial" no comunicado na referência ao processo de normalização da taxa básica.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 5,22%, de 5,137% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 avançou de 6,729% para 6,815%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 7,84% (7,765% na terça) e a do DI para janeiro de 2027, em 8,33% (8,304% na terça).
O IPCA subiu 0,83% em maio, de 0,31% em abril, acima do teto das estimativas do mercado (0,76%) e o mais elevado para o mês desde 1996 (1,22%). Em 12 meses, a taxa acumulada saltou a 8,06%, quase 3 pontos porcentuais acima do teto da meta de inflação para este ano (5,25%).
"Não somente headline surpreendeu como os núcleos também vieram muito elevados", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.
Um dos destaques foi o salto dos serviços subjacentes, variável muito cara ao Banco Central, de 0,08% em abril para 0,32% em maio, segundo a Guide Investimentos.
De acordo com Xavier, para piorar, à tarde o dólar se fortaleceu em termos globais, o que ajudou a pressionar mais a curva, mesmo com o recuo no rendimento dos títulos do Tesouro americano. "Não fossem os Treasuries, o cenário para o DI estaria ainda pior." A taxa da T-Note de dez anos bateu nesta quarta a mínima dos últimos três meses, refletindo demanda acima da média no leilão realizado pelo Tesouro nesta quarta-feira e o compasso de espera pelo CPI na quinta.
A uma semana do Copom, a leitura do IPCA induziu a percepção de que os diretores devem ajustar sua comunicação na quarta-feira numa tentativa de quebrar a dinâmica da deterioração das previsões de inflação, que aos poucos vai contaminando também 2022.
Para o economista João Leal, da Rio Bravo Investimentos, o IPCA foi a deixa perfeita para retirar a sinalização de ajuste parcial. "Não tem mais espaço para deixar a normalização parcial na ata. Está se tornando bastante contraproducente, e é um dos fatores que está aumentando as expectativas para 2022. Se mantiver, o risco é grande de precisar levar a Selic para acima dos 6,50% no ano que vem", disse.