Os juros subiram em toda a extensão da curva, embutindo prêmios tanto em função dos riscos externos quanto os do cenário local. De fora, pesam a alta do dólar ante boa parte dos emergentes – que afeta de forma mais incisiva o real – e os ganhos firmes do petróleo. Fatores que, somados, reforçam as preocupações com os preços dos combustíveis e, consequentemente, com a inflação.
Além disso, os juros dos Treasuries longos voltaram a avançar, ainda que o da T-Note de dez anos tenha permanecido abaixo de 1,5%. O "caso Pandora Papers", mostrando que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mantiveram empresas em paraísos fiscais depois de terem entrado para o governo, no início de 2019, não fez preço diretamente sobre a curva, mas é considerado um fator de desconforto sobre um governo já bastante pressionado.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 9,20%, de 9,135% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025, em 10,22%, de 10,165%. A do DI para janeiro de 2027 avançou a 10,61%, de 10,553%.
O clima externo carregado e o quadro fiscal e inflacionário também pesado no Brasil desencorajam a montagem de posições vendidas. As preocupações com a crise energética são de proporções globais, com problemas na oferta de gás na Europa e na China que podem se agravar com a chegada do inverno no Hemisfério Norte. No Brasil, o drama é ampliado pelas crises hídrica e dos combustíveis, que vão desembocar na inflação.
Os contratos futuros de petróleo fecharam em forte alta, com o barril do Brent superando os US$ 8a e o WTI a US$ 77,62, maior nível desde dezembro de 2014, amparados na decisão da Opep+ de manter o acordo já existente para retorno gradual da oferta do grupo. O dólar à vista subiu 1,44%, a R$ 5,4465.
"Além do cenário local conturbado, o mercado começa a precificar também as dificuldades do pós-pandemia das economias centrais que estavam se recuperando, mas que agora sofrem com os choques de oferta", destacou o operador de renda fixa da Nova Futura, André Alírio.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a citar nesta segunda o desenho da curva em suas apresentações. Pela manhã, em evento da ACSP, disse que as taxas longas, que são importantes para projetos estruturantes, voltaram a subir muito, em parte pelas preocupações fiscais. "O Brasil tem um prêmio na curva muito alta. É a curva mais inclinada de juros. Um pouco está ligada ao fiscal. Eu acho que tem um tema de incerteza de curto prazo que deve arrefecer em breve."
Quanto à citação dos nomes de Campos Neto e Guedes no projeto Pandora Papers, o mercado relativizou, mas não deixa de admitir que é mais um ingrediente no "caldeirão político" do governo Bolsonaro. "Não é algo que faria preço agora, mas se soma a um quadro já bastante negativo. Vamos aguardar", afirmou Alírio. A Economia informou que toda a atuação privada de Guedes anterior à posse foi devidamente declarada à Receita Federal e à Comissão de Ética Pública. Já a assessoria de Campos Neto disse que ele não participa da gestão ou faz qualquer investimento com recursos dessas empresas.