Estadão

Juros sobem com pressão do câmbio, dos Treasuries e cautela antes do IPCA

Os juros estiveram em alta por toda a quinta-feira, devolvendo parte da queda da quarta-feira ocorrida na esteira do resultado fraco do varejo e da melhora de apetite pelo risco no exterior. Nesta quinta, o mercado aproveitou para realizar ganhos, em meio à alta no dólar, das commodities e no rendimento dos Treasuries. Os cenários ruins de inflação e fiscal não permitem grande exposição ao risco local, principalmente na véspera de divulgação do IPCA de setembro que deve ser o mais elevado para o mês desde 1994. Os leilões do Tesouro, com oferta grande de prefixados longos, também ajudaram na pressão tomadora.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 9,19%, de 9,075% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 20225 subiu de 10,105% para 10,20%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,62%, de 10,503%.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, explicou que a trajetória da curva esteve associada ao desempenho negativo do real e preocupações com o quadro de inflação, que não são exclusivas do Brasil. "Há uma discussão global sobre o encarecimento da energia", lembrou. Os preços do petróleo voltaram a subir, mantendo-se nas máximas dos últimos anos, e o dólar operou durante boa parte do dia acima dos R$ 5,50. Commodities agrícolas, como soja, café, milho e açúcar, também avançaram nesta quinta.

A boa notícia é que a Rússia afirmou que pode ampliar sua oferta de gás natural à Europa, onde altas nos preços do combustível pressionam consumidores, o que ajudou a dissipar a aversão ao risco. O principal gatilho para a melhora de humor lá fora, porém, foi a perspectiva de o Senado dos EUA votar ainda nesta quinta a proposta para estender o prazo do teto da dívida fiscal do país até o começo de dezembro, após acordo entre democratas e republicanos.

Ainda do exterior, a curva doméstica recebeu influência do comportamento dos títulos do Tesouro americano, que tiveram avanço expressivo dos retornos. O yield da T-note de dez anos voltou a tocar 1,57% nas máximas do dia. "Há uma apreensão com o payroll amanhã, que deve balizar a expectativa pelo tapering", disse Abdelmalack, sobre o destaque da agenda internacional desta sexta.

Antes do payroll, porém, aqui, o mercado vai olhar na sexta para o IPCA de setembro, que deve ser de 1,25% no consenso da pesquisa do Projeções Broadcast, a maior taxa para o mês em quase 30 anos. Em agosto, o IPCA subiu 0,87%. Em 12 meses, confirmada a mediana, o índice vai acumular alta de 10,34% até setembro, quase o dobro do teto da meta de 5,25% para 2021. As perspectivas também são pessimistas para os preços de abertura.

De Brasília, a divulgação do relatório da PEC dos Precatórios poderia até ter dado a sensação de que o assunto avançou, mas um pedido de vista coletiva adiou a votação, que estava prevista para esta quinta, para 19 de outubro. "É só uma peça. Ainda há outras a serem encaixadas para ver como se vai resolver a questão do Orçamento do próximo ano", afirmou a economista da Veedha.

Nos aspectos mais técnicos, o Tesouro ofertou 14 milhões de LTN e 650 mil NTN-F nos leilões da quinta-feira, com risco para o mercado (DV01) 16% maior do que na operação anterior, segundo a Necton Investimentos. A demanda foi absorvida integralmente, com colocação maior nos prazos longos.

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