Os juros futuros fecharam a terça-feira em alta, recompondo os prêmios retirados na segunda-feira, em meio ao leilão histórico de NTN-B, aos cenários pessimistas para a inflação e otimismo com a atividade. A operação do Tesouro foi de risco recorde para o mercado e respingou sobre a curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), mantendo as taxas pressionadas, mesmo com o câmbio e Treasuries nesta terça bem comportados.
A despeito do discurso do Banco Central, de que o ajuste da Selic não chegará ao nível neutro, há desconfiança de que essa estratégia pode não ser suficiente para trazer a inflação de volta às metas, na medida em que o balanço de riscos vai ficando cada vez mais assimétrico. O cenário externo nesta terça esteve em segundo plano e a movimentação em Brasília, com CPI da Covid e tramitação de reformas, foi apenas monitorada.
A taxa do DI para janeiro de 2022 encerrou a sessão regular em 4,96%, de 4,950% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 6,738% para 6,80%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 8,29%, de 8,195%, e o DI para janeiro de 2027 terminou na máxima de 8,86% (8,774% na segunda-feira).
As taxas exibiam viés de baixa até a divulgação do edital do leilão às 10h30, quando então tiveram uma guinada, passando a subir e a renovar máximas. O Tesouro elevou a oferta total de 1,9 milhão na semana passada para 4,8 milhões nesta terça, com lote muito grande (1,5 milhão) no papel longo (2055), o que fez disparar o DV01 (risco para o mercado). Foram vendidas 4.695.2000 NTN-B, com DV01 de R$ 16,69 milhões, segundo a Renascença DTVM, o maior da história.
A demanda pelas NTN-B continua aquecida mesmo com a inflação implícita dos papéis já muito elevada, mas por outro lado, o papel é visto como interessante tanto para fundos de investimento que não podem alongar muito a duration de suas carteiras, quanto para, por exemplo, dos fundos de pensão, que têm sofrido com seu passivo atrelado ao IGP-M.
"A NTN-B é um papel defensivo, sobretudo neste momento em que o mercado começa a achar que o cenário do Banco Central pode não se concretizar", afirma Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, ressalvando, porém, que "o mercado não começou a peitar o BC", que na avaliação dele, segue com bastante credibilidade.
O discurso do Banco Central é o de que os choques inflacionários são temporários e um ajuste integral da Selic poderia levar a inflação muito abaixo da meta em 2022, horizonte que conta agora para a política monetária. Mas o que se vê é o mercado cada vez mais piorando suas projeções de IPCA para este e o próximo ano, com alta persistente nas commodities, perspectiva ruim para preços de energia e aposta na recuperação da atividade. "Exceto o câmbio mais valorizado, tudo o mais sinaliza pressão para a inflação futura", afirma Nepomuceno.