Os juros futuros fecharam em alta, mas desacelerando o ritmo à tarde, após o mercado digerir falas mais hawkish de dirigentes do Federal Reserve e as inesperadas alta nas vendas do varejo no Brasil em fevereiro. Os rendimentos dos Treasuries se afastaram das máximas da sessão, mas seguiram nos maiores níveis desde novembro, refletindo as preocupações com a política monetária nos Estados Unidos, que não tiveram alívio com a inflação no atacado dentro do esperado. A precificação da Selic terminal na curva continuou rondando os 10%.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,090%, de 10,030% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subia de 10,15% para 10,25%. A do DI para janeiro de 2027 avançava a 10,56%, de 10,48%. O DI para janeiro de 2029 marcava 11,11%, de 11,05%.
A acomodação das taxas à tarde esteve relacionada a uma pausa no noticiário e na agenda negativos e não exatamente a uma melhora de humor. "O mercado ainda está tentando se encontrar após o que ocorreu ontem, com o CPI e a abertura dos Treasuries indicando que o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos pode ser adiado mais uma vez", afirma Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez.
O dia até teve fatores dovish, mas com impacto moderado sobre os ativos. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sinalizou que a instituição não vai esperar o Fed para iniciar seu ciclo de relaxamento. E o índice de preços ao produtor (PPI, em inglês) de março (+0,2%) praticamente em linha com o consenso (+0,3%) resgatou um pouco das apostas de queda do juro na reunião do Fed em julho. Porém, o presidente da distrital de Richmond, Thomas Barkin, disse que os dados recentes não aumentaram a confiança na desinflação.
O yield da T-Note de dez anos estava em 4,57% no fim da tarde, deixando para trás a marca de 4,50% e agora mais perto dos 4,60% – em janeiro chegou a rodar em 3,80%. Em meio à robustez da atividade e do mercado de trabalho norte-americanos, a inflação resiste em convergir para a meta de 2%. "Os mais pessimistas já dizem que para uma convergência efetiva não basta só deixar o juro onde está. Nesse cenário, o próximo passo do Fed seria uma alta em vez de um corte", diz Daniel Leal, lembrando que o viés fiscal nos Estados Unidos é expansionista e deve piorar com a eleição presidencial, sendo mais uma preocupação para o Fed.
O estresse com o juro nos EUA penaliza a curva local pelo temor de que os fluxos para emergentes sequem e afetem o câmbio e, por consequência, a inflação. A curva a termo segue projetando Selic terminal a 10%, justificada hoje ainda pelas vendas no varejo acima do esperado em fevereiro. O varejo restrito teve alta de 1%, ante previsão de retração de 1,3%, e o varejo ampliado cresceu 1,2%, ante consenso de queda de 0,9%.
Os dados reforçaram o viés de alta das projeções do mercado para o PIB do primeiro trimestre, o que, juntamente com o cenário externo conturbado, sugere que o Copom teria espaço para desacelerar o ritmo de queda da Selic para 25 pontos-base na reunião de junho sem impacto à atividade. Amanhã, sai a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e a mediana das estimativas é de crescimento de 0,2%, com desaceleração ante o 0,7% em janeiro.