Os juros futuros terminaram o dia em queda, definida no período da tarde, após manhã de volatilidade. O cenário internacional, com o recuo nos preços das commodities, sobretudo o tombo de mais de 7% do petróleo, somado à perspectiva de que, enfim, a PEC dos Benefícios seja aprovada nesta terça-feira na Câmara abriram espaço para uma correção de parte da forte alta vista nas duas últimas sessões – ontem as taxas haviam fechado nos maiores níveis desde 2016. Esse contexto acabou preponderando ante a influência negativa da desvalorização do câmbio.
As principais taxas fecharam nas mínimas, exceto a do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023, que fechou em 13,845% (mínima de 13,825%), de 13,886% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2024 encerrou a 13,70%, ante ajuste de ontem de 13,902%. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou a 13,04%, de 13,22% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa a 12,91%, de 13,08%.
A manhã foi de indefinição no rumo das taxas em meio às incertezas do cenário externo e com reação apenas pontual à Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) mais forte que a esperada, com viés de alta no trecho curto. O temor persistente de recessão global acabou colocando a curva num jogo de forças entre acompanhar a deterioração do câmbio e o alívio das commodities, duas variáveis importantes para o comportamento da inflação. No começo da tarde, o sinal de baixa se firmou, com a ampliação nas perdas do petróleo e a aprovação pelo Congresso da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2023, lida pelos profissionais da área de renda fixa como indicação positiva para o andamento da PEC dos Benefícios na Câmara.
"A evolução da LDO e mais a probabilidade de passar a PEC (dos Benefícios) sem destaques ajudam. As commodities seguem em queda, ajudando a compensar os problemas do real mais fraco quando pensamos em inflação", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.
"Ainda que tenhamos o dólar pressionado, a curva deu uma esticada forte nos últimos dias", lembrou o operador de renda fixa da Mirae Asset Paulo Nepomuceno.
O barril do Brent, referência para a Petrobras, fechou hoje em US$ 99,49, em queda de 7,11%. Não só o petróleo caiu, como também matérias-primas metálicas e agrícolas – minério de ferro, soja, milho, trigo e açúcar.
Nesse cenário de incertezas e com o ciclo de aperto da Selic já bem avançado, o mercado considera mais razoável apostar num período maior de Selic estável após o fim do processo do que em níveis muito mais elevados de taxa.
Para o economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, 2023 será um ano de juros altos e crescimento baixo, levando em conta os efeitos do aperto monetário por período prolongado. A expectativa dele é de que o Copom elevará a Selic para 13,75%, com mais um aumento de 0,5 ponto porcentual em agosto, mantendo a taxa nesse patamar até julho do ano que vem. A partir do segundo semestre de 2023, o BC, "com tudo correndo bem", deverá ter condição para começar a cortar gradualmente a taxa. Sua previsão é de a Selic fechar o ano que vem em 11%. Ele participou hoje do BTG Talks.
Outro estímulo para a segurar a curva em baixa na parte da tarde foi a aprovação da LDO no fim da manhã, não pelo texto em si, mas pelo sinal emitido para o mercado de que os parlamentares se esforçam para zerar a pauta pendente antes do recesso, num sinal positivo para o "fim da novela" da PEC dos Benefícios. A expectativa é de que esta seja votada e aprovada hoje pela Câmara. "A PEC não é boa, mas se aprovada pelo menos acaba essa indefinição e o toma lá da cá com o Centrão", disse Nepomuceno. O impacto da PEC é de R$ 41,2 bilhões que extrapolam o teto de gastos.