O ambiente externo continuou servindo de referência para o mercado de juros no Brasil, com as taxas em queda firme nos contratos até o miolo da curva, enquanto a ponta longa teve mais volatilidade, alternando sinais de alta e de baixa. Após a pausa de ontem, a preocupação com o sistema financeiro global voltou a predominar nos ativos, com mais problemas do Credit Suisse vindo à tona e enfraquecendo apostas de aperto monetário pelos bancos centrais nos Estados Unidos e Europa. No Brasil, no entanto, o quadro de apostas para a Selic não teve mudança relevante em relação aos últimos dias.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou a 12,94%, de 13,05% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,21% para 12,06%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,51%, de 12,58%, e a do DI para janeiro de 2029, em 12,93%, de 13,00%.
Após Saudi National Bank (SNB), principal acionista do Credit Suisse, descartar a hipótese de oferecer mais assistência financeira à instituição, os mercados retomaram o receio, ontem adormecido, de uma crise no sistema bancário que pudesse resultar num "credit crunch" global e aprofundar o risco de recessão, na esteira da quebra de dois bancos regionais nos Estados Unidos na semana passada. As taxas dos Treasuries caíram com força, com a da T-Note de 2 anos saindo de 4,20% ontem para a casa de 3,80% hoje e a do papel de 10 anos, de 3,66% para a faixa de 3,50%.
No fim da tarde, o Banco Nacional da Suíça (SNB) se dispôs a fornecer liquidez ao Credit Suisse, caso necessário, trouxe algum alívio para os ativos, especialmente ações.
Diante das dúvidas sobre como vão agir as autoridades monetárias em tal cenário, a bolsa de apostas para as próximas decisões do Banco Central Europeu (BCE), amanhã, e do Federal Reserve, na próxima semana, ficaram hoje bastante voláteis. Há dúvidas sobre se o BCE conseguirá cumprir sua sinalização de aperto de 50 pontos-base, enquanto para o Fed as expectativas de aumento de 25 pontos-base chegaram ao fim do dia como levemente majoritárias.
No Brasil, a curva manteve a precificação de início de cortes da Selic em maio, com algo entre 30% e 35% de probabilidade de redução de 25 pontos, e Selic encerrando 2023 e 2024 em 12% e 11,25%, quadro relativamente inalterado ante os últimos dias.
O gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier, diz que no Brasil os bancos parecem muito bem posicionados, o que, a princípio, tornaria precipitada uma redução da Selic antes de junho, especialmente num momento de inflação resistente e expectativas futuras desancoradas. "Esse problema lá fora pode resultar em taxas terminais menores, o que aumenta a probabilidade de antecipação do ciclo, mas ainda assim maio parece muito cedo", afirma.
Vale acompanhar ainda a evolução das commodities, hoje com novo tombo, de mais de 4%, nas cotações do petróleo, variável de grande peso para a inflação via preços de combustíveis. O barril do Brent, referência para a Petrobras, fechou abaixo de US$ 70, a US$ 67,61.
No Brasil, o dia foi de agenda esvaziada e o mercado seguiu monitorando a novela do arcabouço fiscal. A proposta já está Planalto e o presidente Lula afirmou que já teve uma conversa rápida com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir a regra, mas que se reunirá com ele para uma discussão, talvez amanhã. Sem detalhar prazos, sinalizou que a divulgação deve ser feita antes de sua ida à China, prevista para o fim deste mês.