A sessão foi de queda para os juros futuros, mais firme nos contratos de longo prazo, diante de um ambiente externo pró-risco e de declarações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, elogiosas ao arcabouço fiscal na tentativa de dissipar os ruídos em torno da relação entre BC e Fazenda. Lá fora, nova leva de dados abaixo do previsto nos Estados Unidos reforçou não só as apostas de manutenção dos juros pelo Federal Reserve em maio, como também de corte na virada do semestre, às vésperas da divulgação do payroll na sexta-feira, derrubando mais um pouco a curva dos Treasuries e com reflexos por aqui.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,22%, de 13,23% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 caiu de 11,99% para 11,96%. A taxa do DI para janeiro de 2027 encerrou em 11,92% – menor desde os 11,90% de 9/11/2022 -, de 11,98% ontem. A do DI para janeiro de 2029 passou de 12,38% para 12,30%.
Os indicadores de hoje nos Estados Unidos enfraqueceram ainda mais as apostas de alta de juro pelo Fed e colocaram na mesa apostas de queda já no encontro de julho, no total de 100 pontos-base até janeiro de 2024. O PMI de Serviços (51,2) de março caiu mais do que o esperado (54,3), de 55,1 em fevereiro. Os números da pesquisa ADP também decepcionaram, com abertura de 145 mil empregos no mês passado, ante previsão de 210 mil. A taxa da T-Note de dez anos, maior referência para os juros locais, estava em 3,30% no fim da tarde.
Internamente, as atenções estiveram voltadas à participação de Campos Neto em evento organizado pelo Bradesco BBI e almoço do Grupo Esfera. Ele exaltou o novo marco fiscal – segundo ele, a avaliação do BC é "superpositiva" – e pediu parcimônia do mercado nas cobranças por maior ênfase do governo no corte de despesas. "Reconhecemos o esforço. Vamos observar como vai passar o processo de aprovação no Congresso, se vai ter modificação", acrescentou o presidente do BC. De imediato, porém, julgou que o risco de explosão da dívida saiu do radar.
Mas isso não necessariamente representou para o mercado uma sinalização de afrouxamento da política monetária, uma vez que ao mesmo tempo ele voltou a enfatizar que o custo de combater a inflação é alto no curto prazo, mas o de não fazê-lo é ainda pior. Repetiu ainda que o arcabouço não tem relação mecânica com juros e defendeu a autonomia do BC como instrumento importante contra pressões políticas.
"Embora ele tenha reforçado a necessidade de se manter a Selic em 13,75% e a importância da ancoragem das expectativas, o mercado está se posicionando de outra maneira. De que o arcabouço poderá ser suficiente para o BC começar a sinalizar o afrouxamento", afirmou a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
Também presente ao evento do Bradesco BBI, o ex-diretor do BC e diretor de investimentos da Ibiuna, Rodrigo Azevedo, disse que a leitura dos que apostam em cortes na Selic neste ano é a de que a reação da autoridade monetária para combater a inflação não é a mesma que Campos Neto está indicando até o momento. "O mercado tem interpretação de que o ciclo de crédito vai apertar mais e, na hora que isso ficar claro, a atividade vai afundar e o BC vai reagir cortando juros mais cedo", explicou. "Mas existe inconsistência entre o que Roberto Campos Neto diz e o que o mercado está vendo", emendou o ex-BC.
Na curva do DI, a precificação de Selic continua apontando manutenção para o Copom de maio e entre 35% e 40% de chance de queda para junho. "Para agosto e setembro está praticamente dado o corte de 25 pontos-base", informou o economista da BlueLine Asset Flávio Serrano. A curva projeta taxa básica em torno de 12,25% no fim de 2023 e de 10,75% no fim de 2024.