Os juros futuros fecharam a quinta-feira, 9, em queda, em reação ao IPCA de maio muito abaixo do consenso das estimativas. Embora as taxas curtas tenham reagido com mais força, caindo até 20 pontos-base, não houve mudanças relevantes no quadro de apostas para a Selic de curto prazo, com expectativas majoritárias de alta de 0,5 ponto porcentual para o Copom da semana que vem e 0,25 ponto para o encontro de agosto. A surpresa com a inflação promoveu ainda nova rodada de baixa nas taxas de inflação implícita das NTN-B de curto prazo.
Numa sessão de volume robusto, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,38%, de 13,496% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 voltou a fechar abaixo de 13%, a 12,995%, de 13,22% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,685% para 12,49% e a do DI para janeiro de 2027, de 12,60% para 12,47%.
A desaceleração do IPCA em maio para 0,47% ante abril (1,06%) foi muito mais forte do que apontava a mediana das estimativas (0,60%), abrindo espaço para devolução de prêmios sobretudo nos DIs curtos, que não vinham se sensibilizando com o potencial alívio inflacionário advindo da proposta para os combustíveis. Porém, ainda que tenha sido a primeira surpresa positiva do índice em meses, não mudou a percepção geral de que o processo de desaceleração da inflação será lento, até pela leitura negativa dos preços de abertura.
"Para o Copom, não deve haver mudança no plano de voo com um indicador que pode ser pontual. Deve subir a Selic em 0,5 ponto em junho e não encerrar o ciclo, sinalizando mais altas adiante", afirma o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, destacando que os núcleos seguem em níveis elevados. Segundo ele, é preciso considerar ainda que, se aprovado o pacote de desoneração de combustíveis e energia, o alívio da inflação em 2022 será devolvido em 2023. "Uma redução temporária de preços é diferente de redução da inflação. O período de desconto tem data para acabar."
Desse modo, para ele, a queda das taxas hoje está relacionada mais a fatores técnicos do que propriamente à melhora nas apostas de Selic na curva. "Seria interessante ver a avaliação do BC sobre este IPCA, mas os diretores não podem se manifestar porque estão em período de silêncio. Vamos chegar na quarta-feira às cegas", disse.
Nos DIs, a precificação de Selic para o Copom de junho teve oscilação marginal, passando de 55 pontos-base ontem para 54 pontos hoje, enquanto para agosto oscilou de 30 para 27, indicando aumento nas apostas de uma alta menor, de 0,25 ponto porcentual, em detrimento de um aumento de 0,5 ponto.
Nas NTN-Bs, as implícitas, que já vinham reagindo ao pacote dos combustíveis, hoje fecharam mais com o IPCA. No entanto, o movimento é mais significativo no papel para 2022, que vence em agosto. "Estão bem elevadas ao longo da curva. As implícitas estão acima de 6,10% em todos vencimentos de NTN-B, exceto na B22", afirma o estrategista-chefe de renda fixa da Necton Investimentos, Felipe Beckel.