Os juros futuros de curto e médio prazos fecharam a terça-feira, 7, em queda, enquanto os longos terminaram em alta. A leitura da ata do Copom trouxe alívio até os contratos intermediários, mas o restante da curva ficou sujeito à volatilidade em dia de discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e nova bateria de críticas do presidente Lula ao Banco Central (BC) e ao mercado financeiro. A novidade da ata foi o aceno do BC à Fazenda, ajudando a distensionar o clima de confronto entre o governo e autoridade monetária, o que trouxe algum conforto, embora pouco tenha alterado as apostas para a Selic nos próximos meses.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,68%, de 13,80% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 13,22% para 13,15%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 13,19% (13,08% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 terminou em 13,41%, de 13,24%.
Ao contrário dos últimos dias, hoje a curva ganhou inclinação, com as taxas curtas e intermediárias em queda firme, enquanto as longas alternaram estabilidade e alta.
O mercado gostou da opção do BC de fazer um gesto político ao governo, mas sem flexibilizar sua convicção de buscar a convergência da inflação às metas ainda que a desancoragem das expectativas esteja se ampliando. Na ata, o BC diz que a revisão do arcabouço fiscal reduz a visibilidade das contas públicas adiante, mas, de outro lado, também que alguns membros notaram que a execução do pacote apresentado pelo Ministério da Fazenda deveria atenuar o risco fiscal e que "será importante acompanhar os desafios na sua implementação".
A mensagem vem um dia depois do ministro Fernando Haddad, dizer que o BC "poderia ter sido mais generoso" com o governo no comunicado do Copom. E hoje ele pareceu ter se dado por satisfeito. "A ata foi mais amigável em relação aos próximos passos que precisam ser tomados. Considero que a ata deu um passo e é melhor que o comunicado", disse Haddad.
Para Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, a ata trouxe a mesma mensagem dura do comunicado. Ela destaca que, para justificar a desancoragem das expectativas, uma das hipóteses levantadas pelo BC é a de que ele pode estar sendo interpretado como leniente, à qual o BC responde reafirmando seu compromisso de perseguir a convergência da inflação para as metas. Na avaliação da economista, se o BC perceber esse movimento, já está com uma postura mais dura.
"Então o que vale daqui para frente são três pontos: o apontamento do próximo diretor do BC e qual é a postura dele, se de alinhamento técnico; o próprio arcabouço fiscal e como consegue desenhar ambiente de redução dívida/PIB e a discussão da meta, se vai ter mudança ou não", listou.
Haddad admitiu ter conversado esta manhã com a ministra do Planejamento, Simone Tebet, sobre uma possível mudança. Entretanto, ele não confirmou se tema estará na pauta da próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que ocorrerá em 16 de fevereiro.
À tarde, novas declarações de Lula reforçaram a percepção de tentativa de ingerência política sobre o trabalho do Banco Central na figura do presidente Campos Neto, à qual recomendou que o Senado fique "vigilante". Lula desferiu ainda comentários críticos ao mercado – "nunca vi essa gente (mercado) falar em política social" e "a gente tem que construir narrativa contrária à do mercado".
Mais cedo, Campos Neto defendeu a autonomia do BC e afirmou que visa principalmente desvencilhar o ciclo de política monetária do ciclo político, porque os dois ciclos têm "diferentes lentes e diferentes interesses".
No exterior, o destaque da agenda foi o discurso de Powell, muito aguardado após o choque do payroll na sexta-feira, com criação de vagas em janeiro bem acima do esperado. Ele reconheceu que todos foram surpreendidos e, no geral, a leitura do mercado é a de que o plano de voo está mantido. De todo modo, os juros dos Treasuries subiram, com a taxa da T-Note batendo máximas em 3,68%.