Estadão

Juros: Taxas curtas sobem com aumento da pressão sobre o BC e pesquisa Focus

Os juros futuros fecharam a segunda-feira, 13, em alta nos contratos curtos e intermediários e com viés de baixa na ponta longa, com o mercado mesclando cautela com os eventos locais a um clima mais ameno no exterior, que viabilizou a melhora do câmbio, influenciando também as taxas. Internamente, a percepção é de que a pressão política segue crescente sobre o Banco Central.

Em meio à espera da entrevista de Roberto Campos Neto esta noite ao programa Roda Viva, boa parte do mercado em São Paulo reuniu-se com diretores da autoridade monetária, no encontro trimestral que ajuda na confecção do Relatório de Inflação (RI). Como esperado, no encontro, as metas de inflação e a autonomia do BC estiveram no centro do debate, num dia de nova piora nas medianas de inflação, PIB e Selic na pesquisa Focus.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,51%, de 13,44% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,87% para 12,95%. O DI para janeiro de 2027 encerrou a 13,08%, de 13,10% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 13,33% (de 13,41%).

A pesquisa Focus trouxe uma combinação perniciosa de alta nas medianas de IPCA 2023 (5,78% para 5,79%), 2024 (3,93% para 4,0%) e 2025 (3,50% para 3,60%) e Selic, e de crescimento menor do PIB. A expectativa para a taxa básica no fim de 2023 avançou de 12,50% para 12,75%, indicando que o mercado agora trabalha com um a ideia de corte de apenas 1 ponto porcentual para a Selic este ano. Já a mediana para o PIB de 2023 aponta agora aumento de 0,76%, de 0,79% na semana passada.

"Os temores associados ao possível aumento da meta de inflação continuam a influenciar as perspectivas para inflação e juros, em meio às pressões sobre o Banco Central e o receio de intervencionismo de governo nas definições de política monetária", resumiu a analista da Tendências Luiza Benamor.

Economistas em São Paulo estiveram hoje com os diretores Diogo Guillen (Política Econômica) e Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais), além de técnicos do BC. Também participou do encontro a subsecretária de Política Macroeconômica do Ministério da Fazenda, Raquel Nadal. As duas reuniões foram dominadas pelas incertezas sobre o futuro das metas. Na primeira, pela manhã, segundo apurou o Broadcast, a percepção majoritária entre os presentes foi de que a discussão é "fora de propósito", mas houve opiniões divergentes sobre como o BC deve proceder diante do debate. Alguns defendem que o BC resista e outros, que tenha uma postura de "redução de danos", uma vez que a alteração pode ser inevitável. No encontro da tarde, os analistas convergiram na avaliação de que o debate deverá agravar a desancoragem das expectativas.

O economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo de Oliveira viu o mercado de juros hoje bastante "de lado" em comparação ao bom desempenho do real e das ações, num ambiente externo hoje menos tensionado. "O mercado está bastante ansioso pela participação de Campos Neto, no Roda Viva", lembrou.

No programa, o comandante do BC terá a oportunidade de esclarecer uma série de questões envolvendo as críticas desferidas pelo presidente Lula e integrantes do PT ao trabalho do BC, em especial à autonomia da instituição, cuja eventual mudança para o mercado é algo ainda mais temível do que a alteração das metas. O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, afirmou que o governo não fará uma orientação sobre a meta ao Conselho Monetário Nacional (CMN), em referência à reunião da quinta-feira.

Enquanto isso, bancários preparam para amanhã atos em cidades como São Paulo e Brasília não só a favor da redução da Selic mas também pedindo a saída de Campos Neto. Do mesmo modo, 17 entidades e partidos de esquerda organizam-se para protestar na sede do BC no Rio contra Campos Neto, a autonomia da instituição e contra a manutenção dos juros no patamar atual.

No exterior, os juros dos Treasuries estiveram bem comportados e o dólar caiu ante boa parte das moedas, incluindo o real, o que ajudou a ancorar um pouco a ponta longa.

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