Estadão

Juros: Taxas longas sobem com piora de risco fiscal, cautela pré-CMN e exterior

Os juros futuros de curto prazo fecharam estáveis e os demais subiram. A curva tinha aumento de inclinação moderado até o meio da tarde refletindo a piora do ambiente externo, mas na reta final dos negócios o movimento ganhou força com a informação de que o governo pretende ampliar o programa de incentivo à compra de carros e com postura defensiva ante o risco de elevação das metas de inflação amanhã na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN).

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,97%, de 12,963% ontem no ajuste, enquanto o DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 10,98% (10,95% ontem). A do DI para janeiro de 2027 subiu a 10,39%, de 10,31%, e a do DI para janeiro de 2029 avançou de 10,61% para 10,71%.

Após a ata do Copom dovish ontem ter ampliado a percepção sobre o início do ciclo de cortes da Selic, o mercado de juros hoje fez uma pausa, se preparando para a decisão do CMN amanhã, um dos encontros do colegiado mais esperados dos últimos tempos. Nas últimas semanas, o mercado vinha formando um consenso em torno da manutenção das metas de inflação em 3% para 2024, 2025 e 2026 e aceitando de bom grado também uma eventual mudança do sistema de apuração de ano calendário para horizonte contínuo. A duas horas do fim da sessão, porém, as mesas de renda fixa muniram-se de cautela para outros possíveis cenários.

Eduardo Velho, economista-chefe e sócio da JF Trust, afirma que caso tudo se mantenha como está, "esperamos um recuo dos juros nos vencimentos mais longos". "Se o CMN simplesmente decidir pela elevação da meta central para 3,5% ou 3,75%, os juros futuros devem reagir com alta mais expressiva, mantendo o prazo de cumprimento de 12 meses", comentou. Por fim, em caso de alteração do sistema para horizonte contínuo, a reação poderá ser de recuo dos curtos e alta moderada dos longos, prevê Velho, para quem essa opção seria mais favorável ante o segundo cenário.

Ao mesmo tempo, o mercado também reagiu mal à decisão do governo de ampliar, de R$ 500 milhões para R$ 800 milhões, o crédito do programa automotivo, em medida provisória que deve sair ainda hoje, segundo informações coletadas pelo Broadcast junto a fontes. O plano é ampliar o montante apenas para os veículos leves. "É ruim para a percepção de risco fiscal e de postura de governo", diz um economista, lembrando que o texto do arcabouço fiscal agradou, mas é "super dependente de arrecadação" e não garante as metas de primário.

Lá fora, discursos dos presidentes de bancos centrais das principais economias – Jerome Powell (Federal Reserve), Christine Largarde (Banco Central Europeu) – reforçaram a necessidade de elevar juros para combater a inflação e pressionaram para cima o dólar e para baixo os retornos dos Treasuries e dos bônus europeus, refletindo o temor de recessão global.

A agenda desta quinta-feira traz ainda o Caged de maio e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), além da entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre o documento. Entre os pontos de interesse no RTI, estão detalhes sobre a mudança na taxa de juro neutro para 4,5% trazida na ata do Copom e sobre a inflação em 2025. Já Campos Neto terá oportunidade de explicar a mudança de tom do comunicado e para a ata.

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