Os juros futuros fecharam a sessão em baixa e encerraram a semana num clima bem diferente do que no fechamento da anterior, graças ao alívio da pressão sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entre ontem e hoje, aliado ao IBC-Br mais fraco e queda no rendimento dos Treasuries. A reunião de Haddad hoje com representantes dos grandes bancos do País teve desfecho positivo, com demonstração de apoio da Febraban ao trabalho da Fazenda na agenda de revisão de gastos.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,660%, de 10,665% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,24% para 11,20%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 11,50%, de 11,60% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 recuava a 11,88%, de 12,03%.
A curva perdeu inclinação não somente na semana como também nesta sessão, com os DIs longos recuando com mais força, favorecidos diretamente pelo ambiente externo e melhora na percepção de risco fiscal. As taxas chegaram pontualmente a reduzir o ritmo de queda no meio da etapa vespertina dada a piora do câmbio e redução de baixa dos juros dos títulos do Tesouro dos EUA, mas depois retomaram o fôlego.
A melhora na percepção de risco começou ainda ontem, com a entrevista conjunta de Haddad e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, mostrando sintonia em relação à necessidade de rever despesas, a partir de uma "revisão ampla, geral e irrestrita" do que pode ser feito.
Hoje, o ministro recebeu apoio dos grandes bancos na pauta de ajuste das contas públicas, o que tende a fortalecê-lo nas negociações com o Congresso. "Quando reafirmamos o apoio institucional ao ministro Haddad, o fazemos independentemente dos ruídos dos últimos dias", afirmou o presidente da Febraban, Isaac Sidney ao Broadcast, após encontro.
Ainda, ao programa Papo com Editor, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, garantiu que a agenda de responsabilidade fiscal encabeçada pelo ministro e pela equipe econômica é também do presidente Lula. Disse ainda que há o apoio do governo a uma agenda de corte de gastos e a medidas que tenham como objetivo a organização do orçamento.
"A Febraban ressaltou a importância da figura do Haddad na busca do equilíbrio fiscal, trazendo um certo alívio para o mercado doméstico e diminuindo um pouco o ruído que a gente viu nos últimos dias", afirmou Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destacando também o papel as taxas americanas no desenho da curva local.
Os yields dos Treasuries operaram em baixa, diante da expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro. A leitura divergente dos dados da Universidade de Michigan manteve o quadro de queda dos rendimentos, com deterioração no sentimento do consumidor, mas aumento das expectativas de inflação. No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos estava em 4,21%.
O economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano, acrescenta entre os motivos para a baixa das taxas dos DIs os dados de atividade mais fracos no Brasil, na leitura do IBC-Br. O índice subiu 0,01% em abril ante março, bem menos do que apontava a mediana de 0,4%. Contudo, o resultado não foi suficiente para alterar as apostas para o Copom da próxima semana. A curva segue precificando entre 5% e 10% de chance de alta da Selic. Para o fim do ano, projeta taxa básica entre 11% a 11,25%.
"Semana que vem acreditamos que o BC manterá taxas estáveis em 10,50%, visto que próximos dados terão pouca influência. A decisão deve ser unânime. A partir daí, o segundo semestre deve refletir a espera do mercado por elementos de que o BC retomará ciclo de flexibilização", afirmou Serrano. No cenário do BMG, o BC do Brasil só deve retomar os cortes nas taxas no primeiro semestre de 2025 e reduzir a Selic até 9,5%.