Os juros futuros fecharam a sessão em baixa, embalados pelo clima ameno no exterior e modesta melhora na perspectiva fiscal. Influenciado ainda pela correção técnica vista ontem, o mercado ignorou fatores com potencial de pressionar as taxas para cima, como o IPCA de maio no teto das estimativas.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caía a 10,640%, de 10,681% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 recuava de 11,31% para 11,20%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,52% (11,61% ontem) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,90% (11,95% ontem).
A combinação de fatores internos e externos, além das questões técnicas, conseguiu manter as taxas em queda durante todo o dia. Nas mesas de renda fixa, profissionais destacam o papel exercido pelos Treasuries na redução dos prêmios de risco das taxas locais, com a T-Note acelerando a queda ao longo da sessão e tocando mínimas abaixo de 4,40%, após um leilão de T-notes de 10 anos com demanda acima da média.
"A queda nos juros dos Treasuries favoreceu o alívio nos DIs, que haviam subido muito na sexta-feira. Essa melhora na curva americana oferece um ponto de entrada para o investidor aproveitar as taxas que ficaram bastante atraentes", afirma o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, lembrando que alguns vértices vinham operando nas máximas desde novembro.
Pelo lado fiscal, o mercado se animou com a perspectiva de que o cortes de gastos entre na pauta do governo, o que poderia reduzir a dependência da geração de receitas para atender às premissas do arcabouço fiscal. Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, vê o anúncio, mesmo que incipiente, de que o ministro Fernando Haddad levará uma proposta à Lula para limitar o reajuste de gastos de saúde e educação em 2,5%, como um dos fatores a neutralizar a reação da curva ao IPCA. "A Fazenda também manifestou que analisará as regras de reajustes dos benefícios previdenciários", acrescentou. Resta saber sobre a disposição do presidente em concordar.
Nesse contexto, a devolução parcial da Medida Provisória (MP) que restringe o uso dos créditos do PIS/Cofins, editada pelo governo como forma de compensar a desoneração da folha de pagamentos, foi absorvida sem sustos, até porque o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia determinado que a desoneração estará garantida somente se houver compensação à renúncia bilionária do benefício. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, informou a devolução no fim da tarde.
O IPCA acabou não fazendo preço nem na ponta curta, apesar da leitura negativa do índice cheio e dos preços de abertura. Na opinião de Rostagno, o ajuste técnico decorrente da escalada recente das taxas acabou prevalecendo. Já o presidente da Legacy Capital, Felipe Guerra, disse que o mercado tem preocupações maiores do que o IPCA: as políticas fiscal e monetária. "A inflação corrente continua perto da meta e não é problema no Brasil", afirmou, ao programa Cabeça de Gestor, do Broadcast TV.
De todo modo, o IPCA não deixa de ser um reforço na ideia de que o Copom deve manter a Selic em 10,50% na reunião da próxima semana. A curva a termo segue apontando precificação marginal de uma alta de 25 pontos-base, com probabilidade em torno de 12% perto das 16 horas, para junho. Para o fim do ano, projeta taxa de 11%.
A inflação acelerou de 0,38% em abril para 0,46% em maio, no teto das estimativas da pesquisa do Projeções Broadcast, cuja mediana era de 0,40%. Em 12 meses, acumula alta de 3,93%. Houve surpresa com preços de alimentação, já captando efeitos do choque de oferta em função do desastre no Rio Grande do Sul. A abertura mostrou preços de serviços disparando de 0,05% para 0,40% entre abril e maio, ante 0,34% apontado pelo levantamento do Projeções Broadcast.