Os juros futuros fecharam o dia em queda, repercutindo o IPCA-15 de fevereiro abaixo do consenso das estimativas. O dado de inflação não alterou o quadro de expectativas de curtíssimo prazo de dois novos cortes de 0,5 ponto porcentual, mas abriu espaço para apostas em uma taxa terminal menor. O cenário externo hoje mais neutro potencializou a reação da curva ao IPCA-15.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 9,985%, de 10,02% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 9,90% para 9,80%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,00%, de 10,10% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2029 caiu de 10,53% para 10,45%.
O IPCA-15 acelerou de 0,31% em janeiro para 0,78% em fevereiro, mas ficou abaixo da mediana das estimativas (0,82%). Em 12 meses, subiu de 4,47% para 4,49%, ainda no limite superior da meta de 4,50% para 2024 e menor do que apontava a mediana de 4,53%. Os preços de abertura agradaram menos do que o desempenho do índice cheio. A inflação de serviços, em especial os subjacentes que têm sido a pedra no sapato no Banco Central, desaceleraram aquém do esperado.
A princípio, o dado não justificaria uma reação tão positiva, mas num mercado que vinha carente de gatilhos, acabou servindo de argumento para os vendidos. "Foi um falso melhor do que o esperado porque quando se abre o dado, os números não são tão bons", resume o estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias. De todo modo, explica que o resultado sustenta "narrativa" do comunicado do Copom de redução de 0,5 ponto na Selic nas reuniões de março e de maio, e viabiliza sua projeção de taxa terminal em 9,25%.
A precificação de Selic no fim do ciclo na curva nesta tarde estava em 9,60%, ou seja, no meio do caminho entre 9,5% e 9,75%. Ontem, estava próxima de 9,75%. No Boletim Focus divulgado hoje, a mediana para a taxa no fim de 2024 permaneceu em 9% e para 2025 e 2026, em 8,5%. Já as medianas para o IPCA caíram marginalmente para 2024 (3,82% para 3,80%) e para 2025 (3,52% para 3,51%).
No pano de fundo, Mathias, da Monte Bravo, diz que um ambiente interno mais construtivo se dá também porque os investidores vêm se acostumando à ideia de postergação do início do ciclo de queda de juros nos EUA para junho. "O mercado local vem se consolidando de fora para dentro, assimilando que o Fed deverá começar a reduzir a taxa já perto do segundo semestre. Não vejo fôlego para a taxa da T-Note de dez anos ir muito além de 4,30%", avalia.
As taxas bateram as mínimas à tarde, quando o dólar se firmou abaixo de R$ 4,94, o que, somado ao alívio com o IPCA-15, encorajou maior tomada de risco. Além do câmbio, outro vetor potencialmente desinflacionário ao qual o mercado está de olho é a proposta do governo de antecipar R$ 26 bilhões que tem a receber da Eletrobras para modicidade tarifária. A expectativa é de que a proposta seja apresentada uma Medida Provisória (MP) até o fim do mês.