Os juros futuros terminaram a sessão em baixa, mas bem longe das mínimas da manhã, quando a leitura de que Federal Reserve mostrou-se inclinado à possibilidade de iniciar um ciclo de redução de juros em 2024 estimulava o apetite pelo risco. A partir do meio da tarde, o fôlego se esvaiu e as taxas reduziram sensivelmente a queda. O rali deu lugar a uma realização de lucros, estimulada pelo exterior e pela derrubada do veto do presidente Lula à desoneração da folha de pagamento de 17 setores, pelo Congresso, que piora as condições fiscais para 2024.
O volume de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) negociados na B3 foi robusto. O vencimento para janeiro de 2025 voltou a girar mais de 1 milhão de contratos e encerrou com taxa de 10,110%, de 10,162% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2026 caiu de 9,73% para 9,71%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 9,81% (9,84% ontem) e a do DI para janeiro de 2029, em 10,24%, de 10,30%.
Nas mínimas da manhã, as taxas chegaram a fechar 20 pontos-base, tendo já ontem recuado de forma expressiva. O mercado ainda repercutia a leitura dovish do Fed, que mudou a sinalização para a política monetária, não somente não mais ameaçando com novas altas de juros como também admitindo que a possibilidade de cortes entrou no radar. Os rendimentos das Treasuries longas voltaram a cair com força, com o yield da T-Note chegando a tocar mínima em 3,88%, mas no fim do dia voltava ao patamar de 3,92%.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, afirma que o impacto das indicações do Fed não deu espaço para qualquer reação do mercado ao Copom, que "foi até conservador" nas considerações a respeito do ambiente externo, embora tenha reconhecido que está menos adverso. Na sua visão, como a entrevista do presidente da instituição, Jerome Powell, na qual admitiu que houve discussões preliminares sobre a probabilidade de queda de juros entre os membros, terminou perto do fim da reunião do Copom, não houve tempo hábil para ajuste no comunicado. "O Fed mudando a mão abre espaço para o Copom ser menos conservador na ata, na qual poderá dar mais ênfase a essa melhora externa", disse. A ata do Copom será divulgada na terça-feira, dia 19.
Outro estímulo à queima de prêmios pela manhã veio do dado fraco do setor de serviços. A queda nas vendas nos conceitos restrito (-0,3%) e ampliado (-0,4%) surpreendeu o mercado, cujo consenso era de altas de 0,3% e 0,2%. "Dentro da pesquisa, os setores mais afetados foram justamente aqueles mais sensíveis à renda e ao crédito, que devem perceber os efeitos do alívio na Selic somente no segundo trimestre de 2024", afirmou Veronese.
Diante da indicação do Copom de mais dois cortes de 0,50 ponto na taxa básica, a aposta na ampliação do ritmo para 0,75 ponto no curto prazo praticamente saiu do radar, mas pela manhã a curva chegou a precificar nível terminal de 9%. À tarde, porém, com a piora dos ativos, a precificação voltou a ficar entre 9,25% e 9,50%.
O fôlego de baixa começou a arrefecer inicialmente por uma correção técnica vinda do exterior e depois ganhou corpo com as notícias fiscais, especialmente a derrubada do veto à desoneração da folha de pagamentos a 17 setores da economia até 2027, ainda que esperada pelo mercado. A Warren Rena diz que derrubada eleva a projeção de déficit primário de 2024, de 0,86% para 0,95% do PIB.
Para o estrategista-chefe da instituição, Sérgio Goldenstein, o mercado acabou reagindo ao acúmulo de notícias fiscais ruins nos últimos dias, que vinham passando batido. "E teve o comentário do Haddad dizendo que vai ser um problema fechar o Orçamento com a desoneração", disse.
A prorrogação da desoneração no modelo atual, como quer o Congresso, custará mais de R$ 25 bilhões em 2024, uma renúncia que não está prevista no orçamento. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou que o governo deverá acionar o Judiciário, o que pode prejudicar a articulação política num momento em que o Executivo depende muito do Congresso para aprovar a pauta fiscal.