Os juros futuros deram continuidade ao movimento de alta registrado na sexta-feira, o que levou as principais taxas a fecharem no maior nível em mais de seis anos, com algumas delas rompendo 14%. O temor de recessão global alimentado pelos sinais das economias dos Estados Unidos, Europa e China trouxe sell off para os ativos de risco. Internamente, há desconforto com a questão política, depois que o assassinato de um militante do PT por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro fez crescer a percepção de risco de polarização na disputa eleitoral.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou a 13,88%, de 13,785% no ajuste de sexta-feira, e a maior desde os 13,89% de 8/4/2016. O DI para janeiro de 2024 fechou com taxa de 13,90%, ante 13,631% no ajuste anterior, e na máxima desde os 14% também em 8/4/2016. Os vencimentos dos trechos intermediários e longos igualmente voltaram aos níveis de seis anos atrás. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou a 13,22%, de 12,96% ontem, e a do DI para janeiro de 2027, em 13,08%, de 12,845% na sexta-feira.
As taxas renovaram máximas em vários momentos do dia, sendo as últimas já faltando poucos minutos para o encerramento da sessão regular, acompanhando a escalada do dólar a R$ 5,37, enquanto o petróleo zerava as perdas. O temor de recessão, mesmo sendo em tese um evento desinflacionário para a economia, elevou os prêmios da curva em função do movimento de fuga para ativos de segurança, como o dólar e títulos do Tesouro americano, colocando as taxas aqui numa direção oposta à da curva americana.
Aos receios sobre o efeito do aperto monetário do Federal Reserve na economia dos Estados Unidos, hoje juntaram-se o aumento dos lockdowns na China em função da expansão de casos de covid-19 e o risco de corte de fornecimento de gás russo para a Europa. Nesse cenário de corte, o UBS estima queda de 4 pontos porcentuais no PIB da região.
Vários dirigentes do Federal Reserve hoje voltaram a defender uma postura firme da autoridade monetária contra a inflação, entre eles o super hawkish presidente da distrital do Fed de St. Louis, James Bullard.
No Brasil, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, comentou que um aperto monetário global tem criado um debate sobre a perda do canal do câmbio na política monetária, já que se trata de um preço relativo que responde ao diferencial de juros. Em contrapartida, afirmou que esse aperto global também leva a uma abertura do hiato do produto do mundo. Ele participou, pela manhã, de evento virtual organizado pelo banco Credit Suisse.
Na seara política, a morte do militante do PT Marcelo Arruda, assassinado a tiros por Jorge José da Rocha Guaranho, apoiador de Bolsonaro, no sábado, ganhou repercussão, indicando um pouco do que pode ser a campanha eleitoral em 2022. Não deixa de ser um sinal de alerta, mas no que toca ao pleito o mercado está mais sensível às propostas fiscais das principais candidaturas.