Os juro futuros fecharam em alta, estimulada pelo exterior enquanto o mercado aguardava o desenrolar das pautas econômicas na Câmara. A pressão era moderada em boa parte do dia, mas cresceu depois da divulgação da ata do Federal Reserve, no meio da tarde, que também elevou a pressão sobre a curva americana e sobre o câmbio. O documento, considerado "hawkish", reforçou a percepção de nova alta de juros nos Estados Unidos. No Brasil, o governo acelerou as negociações da reforma tributária e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que a intenção é iniciar a votação amanhã.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou na máxima de 12,82%, de 12,783% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 avançou de 10,70% para 10,78%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,23%, de 10,07%, e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 10,59%, de 10,42%.
O mercado operou em banho-maria durante boa parte da sessão, mas sustentando um viés de alta desde a abertura, na esteira da realização de lucros iniciada ontem, uma vez que o ambiente externo era de aversão ao risco após dados fracos de atividade na Europa e na China. O investidor aguardava a ata do Fed, que sairia às 15h, ao mesmo tempo acompanhando o noticiário sobre as matérias que estão na Câmara, num dia de agenda local esvaziada de indicadores.
A ata confirmou a percepção de que a autoridade monetária deve voltar a subir o juro na reunião de julho. Os dirigentes disseram ter permanecido extremamente atentos aos riscos de inflação que se manteve elevada. Reconheceram que a inflação diminuiu desde meados do ano passado, mas leituras recentes para o núcleo da inflação de preços do índice de gastos de consumo (PCE, na sigla em inglês) pouco mudaram. Além disso, o documento revelou que alguns dirigentes indicaram que eram a favor de aumentar a taxa dos fed funds em 25 pontos base na última reunião.
"Os documentos do Fed têm sido sempre hawkish, mas as falas de Powell, não. Hoje não teve Powell. Então, olhando a ata, são mais duas altas de juros nos Estados Unidos. Pelas falas recentes de Powell, será só mais uma", afirma a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, referindo-se ao presidente do Fed, Jerome Powell.
Na curva americana, o yield da T-Note de dez anos chegou a tocar a máxima de 3,94%, de 3,85% no fim da tarde de segunda-feira – ontem o mercado esteve fechado, e o da T-Note de dois anos, máxima de 4,95%, de 4,92%.
Na XP Investimentos, o economista Francisco Nobre afirma que a ata não alterou o quadro geral que aponta que o fim do ciclo de aperto se aproxima, "embora a política monetária deva permanecer restritiva por mais tempo em meio à inflação persistentemente alta e mercado de trabalho apertado". "Uma nova alta de juros não mudará significativamente a trajetória da economia americana ou dos preços dos ativos", comenta, em relatório.
De acordo com Veronese, o mercado de DI no Brasil acompanhou a reação dos ativos lá fora, "até porque não tivemos nada de concreto por aqui". "A curva tem ainda espaço para alguma correção, mas segue precificando expectativa de corte expressivo da Selic", disse.
O movimento de ontem e de hoje, desse modo, é considerado mais como um respiro do mercado, que recompõe parte dos prêmios enquanto também espera pelo desfecho das votações na Câmara e pelos próximos dados de inflação. Arthur Lira afirmou que trabalha para iniciar hoje a discussão sobre a proposta tributária e votar a matéria amanhã à noite em primeiro turno. Ele articula para que a reforma possa ser votada antes do PL do Carf.
Nas mesas de renda fixa, a avaliação é de que a aprovação da tributária na Câmara pode até ocorrer antes do recesso parlamentar, no dia 15, mas uma aprovação ainda esta semana, dados os conflitos na negociação com governadores e setores econômicos, ainda não estaria totalmente precificada. Caso se concretize, há grande espaço para fechamento da curva, a depender também do que for ajustado no texto.