Os juros futuros subiram nesta terça-feira, 26, com ajustes à mensagem hawkish da ata do Copom e ao IPCA-15 de março acima da mediana das estimativas e com leitura negativa dos preços de abertura. Houve correção das apostas para a taxa terminal na curva de juros, que voltavam aos 9,75% nesta tarde. Para o Copom de junho, o mercado já precifica em torno de 90% de chance de redução do ritmo de corte.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 9,925%, de 9,883% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subia a 9,89%, de 9,81% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,12%, de 10,05% ontem, a do DI para janeiro de 2029 avançava a 10,60%, de 10,55%.
Sem destaques hoje nos mercados internacionais, o impacto da agenda da super terça foi potencializado na curva. Ontem, as taxas caíram, descoladas da alta dos yields dos Treasuries, justamente porque o mercado tentou antecipar uma eventual suavização do tom da ata e um dado benigno de inflação. Nesta terça, houve um choque de realidade, após o documento colocar em xeque um novo corte da Selic em 0,5 ponto porcentual em junho e após a surpresa negativa do IPCA-15.
A ata explicou que a elevação da incerteza que justificou a mudança no forward guidance, que limitou a sinalização de queda de 0,5 ponto apenas à "próxima reunião", está relacionada a fatores internos e externos. Lá fora, o Banco Central vê um cenário de desinflação global mais incerto, em função da resiliência da atividade nos EUA. Aqui, há preocupações sobre o impacto das pressões salariais no ritmo da inflação de serviços, com reajustes acima da meta de inflação e sem ganhos de produtividade correspondentes.
Outro elemento hawkish foi a afirmação de que para alguns membros, se a incerteza prospectiva permanecer elevada, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir.
Para o economista-chefe da Terra Investimentos, João Mauricio Rosal, o mercado vinha muito otimista com a política monetária, mesmo com os dados já apontando piora do cenário prospectivo para a inflação e resiliência da atividade. "Então, o que vimos hoje foi um recomposição dos prêmios frente ao discurso do BC", disse.
O economista Álvaro Frasson, do BTG Pactual, avalia que as chances da incerteza continuar no radar são grandes e, com isso, a cautela na condução da política monetária será exercida. Caso o cenário se deteriore ou se altere substancialmente para pior, acrescenta, o Copom poderá reduzir a dose para 25 pontos-base em junho e uma indicação de pausa no ciclo não estaria fora do radar, mas ainda com menor probabilidade de ocorrência.
O IPCA-15 de 0,36% em março superou a mediana das estimativas (0,32%) e preços de abertura decepcionaram. Alimentação no domicílio (1,16% para 1,04%) desacelerou aquém do esperado (0,82%) e o ritmo de queda da inflação de serviços e serviços subjacentes, que foi destaque hoje na ata do Copom, também frustrou. As altas de 0,07% e 0,40%, respectivamente, segundo números do BV, vieram acima das medianas (-0,13% e 0,33%). Em 12 meses, serviços e serviços subjacentes seguem rodando na casa de 5%, bem longe da meta de 3,0% definida para 2024.
A ata e do IPCA-15 resultaram em ajustes na precificação de Selic na curva de juros. A projeção de taxa terminal voltou a 9,75%. Para o Copom de maio, a curva manteve os -49 pontos vistos ontem. Mas para junho a precificação passou de -30 para -27, ou seja, a probabilidade de queda da Selic em 25 pontos-base subiu de 80% para 92%, enquanto a de 50 pontos caiu de 20% para 8%.