Os juros futuros avançaram com força nesta terça-feira, 13. O cenário externo, via surpresa negativa da inflação ao consumidor nos Estados Unidos, foi determinante na trajetória da curva, afetando sobretudo os vencimentos longos, que acompanharam a reação dos Treasuries. A contribuição local para o movimento veio do volume de serviços em julho acima do consenso e do leilão e Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B) com lote elevado em termos de risco (DV01) para o mercado. Os eventos do dia não chegaram a alterar o quadro de apostas para o Copom da próxima semana, mas ajudaram a inibir apostas em corte da Selic em 2023.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,145%, maior patamar desde os 13,17% do último dia 29 de agosto, de 12,99% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,72% para 11,90%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 11,55%, pico desde os 11,57% em 31 de agosto, de 11,32% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2029, de 11,66%, no mês só não foi maior do que a do dia 1º (11,72%).
Ao contrário de ontem, o volume foi robusto refletindo o ajuste de posições exigido pelo exterior. O índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) norte-americano em agosto subiu 0,1%, na contramão da mediana (-0,1%) das estimativas. Além da decepção com o índice cheio, a alta de 0,6% do núcleo veio muito acima da esperada (+0,3%), o que foi um choque para os agentes. Na comparação anual, o índice cheio ficou em 8,3%, desacelerando ante julho 8,5%, mas o núcleo avançou de 6,1% para 6,3%.
Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do Banco Modal, afirma que a composição do índice cheio revela uma queda concentrada em commodities energéticas. "A leitura do CPI subjacente é negativa qualitativa e quantitativamente. Ressaltamos que os riscos para a inflação subjacente são altistas e decorrem do mercado de trabalho que permanece extremamente apertado", disse.
Os dados tornaram piso as apostas de que o Federal Reserve vai elevar o juro em 75 pontos-base em setembro e colocaram na mesa a possibilidade de uma aceleração no ritmo de aperto para 100 pontos. Além disso, boa parte do mercado passou a trabalhar com a ideia de que o orçamento total deve ser de no mínimo 4% no fim do ciclo. Na curva americana, o efeito foi mais forte nas nos papéis curtos, com o yield da T-Note de dois anos indo a 3,75%, mas a taxa de dez anos também avançou, rompendo 3,40% no fim do dia. Ao mesmo tempo, a necessidade de aperto voltou a alimentar o temor de recessão na economia americana.
Como o Copom se antecipou e está prestes a já finalizar o processo de aperto da Selic, o CPI não alterou o cenário de expectativas para setembro, com a aposta de manutenção do nível de 13,75% mantendo-se majoritária ante a opção de aumento residual de 0,25 ponto. Porém, como a possibilidade de um Fed mais "hawkish" traz risco de estreitamento de liquidez e implicações para o câmbio doméstico, o mercado recolheu um pouco as fichas para cortes da Selic no ano que vem, uma vez que o CPI também reforça a mensagem do Banco Central de que a Selic pode ficar mais tempo inalterada do que o mercado espera.
O gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier, diz que mesmo antes da divulgação do CPI o mercado já tinha um "viés tomador" na abertura com a leitura da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). O volume de serviços em julho teve expansão de 1,1% ante julho, muito acima do 0,6% esperado. "Não muda a expectativa de curto prazo, mas o mercado já queria tomar DI a partir de 2023, daí saiu o CPI e foi horroroso", disse.
Os juros estiveram ainda sob o jugo do leilão do Tesouro, que ofertou 2 milhões de NTN-B, absorvidas integralmente. Para se ter ideia, o DV01 foi de US$ 1,21 milhão, de US$ 508 mil na operação da semana passada, segundo a Necton Investimentos.