Os juros futuros fecharam a sessão regular em alta, concentrada entre os vértices de curto e médio prazos, refletindo a piora na percepção de risco fiscal e expectativa de um Copom mais agressivo na condução da política monetária nos próximos meses. O imbróglio sobre a PEC dos Precatórios e a questão do reajuste dos servidores em 2022 seguem como principal foco dos investidores, hoje com o exterior em segundo plano. O Tesouro elevou a oferta de prefixados em relação à semana passada, mas com um risco desta vez mais equilibrado, o que evitou pressão maior sobre a curva.
No fim da sessão regular, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 estava na máxima de 12,165%, de 12,036% ontem, e a do DI para janeiro de 2025, também na máxima, fechou em 12,09%, de 11,996% no ajuste ontem. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 11,96% (máxima), de 11,903%. No fechamento da sessão estendida, estes contratos tinham taxas de 12,165%, 12,05% e 11,93%, respectivamente.
Com as taxas curtas subindo mais do que as longas, a inclinação negativa da curva, que diminuiu nos últimos dois dias, hoje voltou a abrir. O spread entre os contratos para janeiro de 2027 e janeiro de 2023 ficou em -20,5 pontos, de -12 pontos ontem. O movimento se dá em função da ideia de que a disposição do Banco Central de elevar a Selic em 1,5 ponto porcentual sinalizada para a próxima reunião do Copom é pouco para o tamanho do desafio de colocar a inflação de 2022 para perto de meta de 3,5% – atualmente o Boletim Focus tem mediana em 4,79%.
A percepção de Copom mais agressivo vem crescendo junto com as dificuldades de tramitação, agora no Senado, da PEC dos Precatórios. Por mais que as mudanças sugeridas ontem pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), José Aníbal (PSDB-SP) e Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) – entre elas retirar os precatórios do teto em 2022 – possam, numa visão otimista, tornar o texto menos ruim, o fato é que a proposta teria de voltar à Câmara, com o risco de o processo recomeçar praticamente do zero.
"Há um claro descompasso na Política Econômica. A política monetária é o freio e a fiscal, o acelerador. Quando se pisa nos dois, o carro vai parar, mas com estragos em várias peças", ilustrou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, que prevê alta de 2 pontos porcentuais da Selic em dezembro, com taxa de 13,25% ao fim do ciclo. Para ele, as decisões do BC não serão "casuísticas" como as que têm sido tomadas na área fiscal, sob o risco de perder credibilidade. Dado o "estrago nas peças", ou seja, economia cambaleante, no ano que vem mesmo deve, nas contas de Sanchez, haver um ciclo de queda da Selic no último trimestre, que levará a taxa a 11,75%.
Segundo a Greenbay Investimentos, a precificação da curva apontava nesta tarde três altas de 175 pontos para a Selic nas reuniões do Copom de dezembro, fevereiro e março, com a taxa fechando o ano que vem em 13,25%, sendo que para o próximo encontro a probabilidade é de 100%.