Estadão

Juros: Taxas sobem com risco fiscal, leitura ruim do IPCA-15 e Treasuries

Os juros futuros fecharam a sexta-feira com alta expressiva, determinada pela leitura qualitativa ruim do IPCA-15, deterioração da percepção de risco fiscal trazida pelos ajustes na PEC dos Combustíveis e avanço no rendimento dos Treasuries. Os eventos do dia tornaram o quadro das apostas para a Selic nos próximos meses mais conservador, com a taxa terminal projetada pela curva voltando aos 14%. No balanço da semana, a inclinação ficou praticamente inalterada.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou em 13,64%, de 13,513% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 não conseguiu se manter abaixo de 13%, fechando em 13,25%, de 12,99% ontem. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 12,52% (12,224% ontem) e a do DI para janeiro de 2027 avançou a 12,46%, de 12,179%.

Após os DIs terem devolvido prêmios em várias sessões desta semana, a avaliação do mercado é de que havia espaço para recomposição das taxas em meio ao quadro de inflação pressionada, incertezas no exterior e risco fiscal crescente. A taxa do DI para janeiro de 2024, por exemplo, havia completado ontem a sexta queda consecutiva.

O ajuste começou cedo, com o IPCA-15 (0,69%) de junho pouco acima da mediana das estimativas (0,67%), e acelerando ante maio (0,59%). O problema nem foi esse, mas sim a leitura dos preços de abertura. "A composição do índice segue desfavorável, principalmente sob a ótica subjacente e dos núcleos. Para os próximos meses, as medidas tributárias devem trazer fortes recuos no IPCA, principalmente nos preços administrados, que deverão mostrar efeito rebote no ano que vem", afirma Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do Modal. Justamente 2023 é o atual foco do horizonte relevante da política monetária.

A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, diz que, apesar de praticamente em linha com o esperado, o número de hoje, em geral, não foi bom porque mostra inflação persistente e disseminada. "As perspectivas não são otimistas. Embora a gente se espere alguma desaceleração, esse último reajuste de combustíveis tem potencial de trazer novas pressões. O cenário preocupa e precisa de um BC atento e atuante como tem ficado", disse.

Pelo lado fiscal, o governo pretende ajustar os valores do auxílio-caminhoneiro para R$ 1 mil, de aumentar o vale-gás e de reajustar o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600. As concessões seriam possíveis com a retirada da PEC da compensação a Estados que reduzirem o ICMS sobre diesel e gás de cozinha. O senador Fernando Bezerra (MDB-PE), relator da PEC dos Combustíveis, disse que o impacto fiscal total deve atingir R$ 34,8 bilhões de crédito extraordinário, fora do teto de gastos, e não os R$ 29,6 bilhões previstos anteriormente.

"O governo está cada vez mais uma vez indo na direção de aumento de gastos, buscando aumentar popularidade. Estamos há um ano recebendo notícias que estão minando a credibilidade fiscal", disse o diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, Rogério Braga.

O saldo do dia na precificação de Selic da curva foi de aumento das apostas na elevação de 0,5 ponto porcentual no Copom de agosto, que no meio da tarde apareciam com 80% de probabilidade, ante 70% ontem, enquanto a chance de aperto menor, de 0,25 ponto, caiu de 30% ontem para 20%. Para a taxa terminal, a precificação de ontem, que era entre 13,75% e 14%, hoje foi para 14%. Os números são da Greenbay Investimentos.

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