Os juros futuros fecharam a quinta-feira em alta, amparada principalmente no anúncio do reajuste de preços de combustíveis que surpreendeu o mercado pela magnitude e seus efeitos sobre a inflação nos próximos meses. Nem mesmo a virada dos preços do petróleo para baixo à tarde foi capaz de inverter a rota das taxas, embora tenham desacelerado o ritmo. Além dos impactos diretos dos aumentos da gasolina, diesel e gás de cozinha no IPCA, o mercado teme pelos efeitos fiscais, dada a leitura de que o movimento da Petrobras eleva a pressão sobre Brasília para uma solução imediata para os combustíveis, num ambiente de negociações conturbadas. No fim da tarde, a aprovação dos projetos sobre combustíveis no Senado deu um alívio extra à sessão estendida.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,03% (regular estendida), de 12,916% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,599% para 12,795% (regular) e 12,790% (estendida). O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 12,275% (regular) e 12,22% (estendida), de 12,122% ontem, e a do DI para janeiro de 2027 subiu para 12,145% (regular) e 12,04% (estendida), de 12,036%.
AS taxas já começaram em alta, inicialmente acompanhando a aversão ao risco externa e depois com o anúncio da Petrobras. Os indicadores da agenda foram deixados de lado. Nem a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) nem o resultado do Caged fizeram preço nos ativos. A frustração sobre as negociações para acordo de cessar-fogo no leste europeu puxaram para cima o petróleo, que depois se acomodou em baixa. A inversão do sinal da commodity conseguiu no máximo reduzir o ímpeto de alta dos juros.
A estatal elevará, a partir de amanhã, os preços da gasolina em 18,7%, os do diesel em 24,9% e o do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), em 16%. Economistas calculam impacto de até 0,8 ponto porcentual sobre o IPCA, o que colocou um viés altista nas projeções de inflação, que já vinham sendo elevadas ao longo da semana.
Na Fundação Getulio Vargas (FGV), o economista André Braz revisou sua estimativa de IPCA de 6,2% para 7,5%, não só pelo efeito no item combustíveis do IPCA, mas também pela irradiação desses reajustes na economia de forma geral. "A estimativa do impacto indireto é difícil porque é muito espalhada, mas não será desprezível e vai acelerar muito a pressão inflacionária em 2022", explica.
O economista-chefe da Terra Investimentos, João Mauricio Rosal, vê um certo pânico com a questão da inflação não só no Brasil, mas no mundo todo. "Vide o discurso do BCE, de que vamos continuar tendo choques inflacionários por um período relativamente longo. Tivemos hoje uma realização dessa percepção em escala global", afirmou. O Banco Central Europeu (BCE) manteve hoje juros inalterados, mas sinalizou ritmo mais rápido de retirada de compras de ativos. Nos Estados Unidos, a inflação ao consumidor de fevereiro subiu 0,8%, acima do consenso de 0,7%, com salto anual de 7,9%.
Outro efeito do reajuste da Petrobras é como será a resposta fiscal de Brasília, dado o aumento da pressão contra a disparada da inflação, com risco até de nova greve dos caminhoneiros. Ao menos, parece ter servido para destravar os projetos que estavam sendo discutidos no Congresso e que, por ora, mitigam a possibilidade de soluções heterodoxas, o que levou as taxas a reduzirem um pouco mais a alta na etapa estendida. O Senado conseguiu aprovar a criação da conta de estabilização de preços e o texto-base que altera o modelo de cobrança do ICMS arrecadado pelos Estados sobre os combustíveis e isenta a aplicação do PIS e a da Cofins, tributos federais, sobre o diesel.