As dúvidas sobre as chances de um corte nos juros dos Estados Unidos, que deram força ao dólar, somadas às preocupações com o cenário fiscal e aos sinais reiterados de preocupação do Comitê de Política Monetária (Copom) com a desancoragem das expectativas de inflação levaram a mais um aumento nas taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), principalmente na parte longa da curva, mais afetada pela percepção de riscos.
Marcos Weigt, head da Tesouraria do Travelex Bank, mencionou que hoje houve um movimento geral de valorização do dólar, em particular na comparação com moedas emergentes, mas que o comportamento do real foi "um pouquinho pior", o que repercutiu também na curva de juros.
"Quando você olha a taxa de cinco anos do Brasil contra o México, em janeiro o diferencial estava 1,50 ponto maior aqui do que lá. Agora, está em 2,42, sendo que a gente cortou mais taxa do que eles. Essa deterioração de risco é por causa do fiscal", avaliou.
"O mercado como um todo está muito sensível e aguardando alguma notícia do lado fiscal. A postura do Banco Central na semana passada mantendo a taxa com unanimidade foi uma notícia boa, mas aí chega um ponto em que necessita de alguma notícia mais positiva", afirmou o economista-chefe do Integral Group, Daniel Miraglia,
Hoje os investidores também digeriram a ata da mais recente reunião do Copom. No documento, o Banco Central aumentou a sua estimativa de taxa de juros real neutra, de 4,5% para 4,75%, e antecipou uma revisão na sua estimativa de hiato do produto. O grupo apontou que o hiato saiu do território negativo, conforme a estimativa divulgada no final de março, para "em torno da neutralidade".
O mercado inicialmente não reagiu ao documento, mas acabou olhando para a ata com mais atenção no decorrer do dia, segundo Filipe Arend, head de renda fixa da Faz Capital. Ele considerou que o documento manteve o "tom duro" já reproduzido no comunicado publicado na quarta-feira passada, mas trouxe "elementos adicionais", em particular a respeito do cenário fiscal.
"O Copom muitas vezes frisou na reunião anterior a respeito do risco fiscal, de todo o potencial que isso tem para desancorar as expectativas de inflação, mas hoje isso foi reforçado múltiplas vezes", disse Arend, acrescentando que as preocupações com o cenário externo também chamaram a atenção.
A taxa do contrato de DI para janeiro de 2025 subiu a 10,555%, de 10,554% ontem. A taxa para janeiro de 2026 teve alta a 11,100%, de 11,092%, enquanto a taxa para janeiro de 2027 aumentou a 11,475%, de 11,449%. Na ponta longa, a taxa para janeiro de 2029 subiu a 11,915%, de 11,850%.