Os juros futuros fecharam a sessão em forte alta nesta terça-feira, 30, refletindo o aumento de posições de hedge, na medida em que os ativos locais só poderão reagir ao resultado do encontro de amanhã do Federal Reserve quinta-feira, pós-feriado no Brasil. Este ajuste foi ainda fomentado pelo avanço dos rendimentos dos Treasuries e do dólar, além de dados firmes do mercado de trabalho no Brasil. Desse modo, a curva termina abril com forte ganho de inclinação, alimentado pelo crescimento das incertezas sobre o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos e piora de percepção de risco fiscal.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,315%, de 10,155% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, saltava de 10,39% para 10,65%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,01% (de 10,76%) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,53% (de 11,30%).
Já se sabia que a sessão seria difícil, em função do fechamento do mercado brasileiro amanhã, dia de decisão do Fed, mas ainda assim o nível de ajuste promovido na curva surpreendeu. Somado a isso, o expressivo giro de contratos – só no DI janeiro de 2025 era de 1,36 milhão – sugere movimentos de stop loss por parte dos vendidos.
A esperada cautela antes do Fed por si só já justificaria uma postura mais defensiva, mas acabou sendo exacerbada pelo resultado do índice de custo de emprego dos EUA, que subiu 1,2% no primeiro trimestre, ante previsão de 0,9%. Os rendimentos dos Treasuries dispararam, com yield da T-Note de 2 anos se firmando acima dos 5% e o da T-Note de 10 anos batendo máximas a 4,69%. Outro vetor negativo para os juros foi o câmbio, com o dólar escalando novamente para perto dos R$ 5,20.
Esse contexto remete a declarações recentes do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitindo o risco de reduzir a dose de corte da Selic, atualmente de 0,50 ponto porcentual, se o aumento da incerteza global persistir.
Na Kínitro Capital, o gestor de portfólio Mauricio Ferraz relata o caráter bastante técnico da sessão desta sexta-feira, pautado pelos ajustes antes do Fed. "A expectativa é de um tom bastante duro, com o Fed reforçando a ideia de que não deve começar a reduzir juro enquanto os dados não confirmarem que a inflação está convergindo para as metas", disse. O fato de não haver desta vez a divulgação do gráfico de pontos aumenta a subjetividade das interpretações da mensagem do Fed, o que também eleva a cautela.
Ferraz destaca que as turbulências externas afetam demais os ativos emergentes, sobretudo o câmbio, o que somado ao risco fiscal e dados de atividade forte no Brasil, acabam limitando o espaço de atuação do BC. "A inflação está ok, mas o BC tem adotado uma postura mais hawkish, indicando que o orçamento de cortes que tinham parece estar mudando", disse.
A agenda doméstica foi carregada de dados indicando um mercado de trabalho fortalecido, o que serve de alerta para a inflação de serviços. A Pnad Contínua mostrou que a taxa de desemprego foi de 7,9%, abaixo da mediana de 8,1% e perto do piso da projeções (7,8%), com aumento tanto na renda média quanto da massa salarial. Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou criação de 244.315 carteiras assinadas em março, acima da mediana das estimativas, de 190 mil postos.