O especial de comédia <i>Perturbador</i>, do humorista Leo Lins, foi retirado do Youtube por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo. No vídeo, ele faz piadas com pessoas idosas e com deficiências, de cunho religioso, escravidão e minorias. A medida cautelar atende a um pedido do Ministério Público, por considerar que o show de humor tem piadas preconceituosas. O assunto repercutiu bastante na internet. O comediante Fábio Porchat saiu em defesa do colega e acabou sendo alvo de duras críticas nas redes sociais.
A informação foi confirmada pelo próprio humorista, no último sábado, 13, por meio das redes sociais. Ele tinha até 72 horas para retirar o especial da plataforma e acatou o pedido às 15h da última terça-feira, 16, no limite do prazo dado pela Justiça.
Em uma postagem no Instagram na terça-feira, o comediante escreveu: "Faltam 180 minutos para abrir um precedente perigoso para a comédia, ou melhor, a arte em geral". Em outro post, o humorista também declarou que "este processo tem consequências absurdas" e "meu advogado já está entrando com uma defesa".
De acordo com o humorista, a gravação do show de stand-up foi realizada na cidade de Curitiba para aproximadamente 4 mil pessoas. Ele ainda destacou que a publicação em seu canal no Youtube tinha mais de 3 milhões de visualizações.
Na tarde desta quarta-feira, 17, Leo Lins voltou aos stories do Instagram dizendo que leu todo o processo. "Dormi pouco, umas três e meia da manhã, no sofá mesmo, e acordei cedo porque vou gravar um vídeo para vocês. Li o processo inteiro ontem… Surreal", falou.
Depois, ele agradeceu o apoio que vem recebendo de colegas e fãs. "Agradeço a todo mundo que está chegando junto. Vi que tem muita gente mesmo, vários comediantes… Muito, muito obrigado mesmo. Vários artistas, colegas, comediantes, seguidores, fãs… Falando a respeito dessa censura, descarada mesmo", continuou.
Em seguida, faz uma crítica e diz que vai gravar um vídeo, em breve, para fazer alguns esclarecimentos. "Essa atitude do Ministério Público, para mim, é muito arbitrária, de remoção do meu especial. Vou gravar um vídeo comentando partes do processo. Segundo o meu advogado, é permitido, mas tenho que tomar muito cuidado porque tem várias coisas que se eu falar, vai piorar o processo, que em tese estou proibido de falar", finalizou.
Embora esteja proibido de veicular o stand-up na internet, os shows presenciais continuam liberados. Há sessões previstas para os próximos meses nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul, como o próprio comediante divulgou em suas redes sociais.
Procurado pelo <b>Estadão</b>, o Ministério Público, em nota, afirmou apenas que "trata-se de medida cautelar e, nessa fase, os autos tramitam em segredo de justiça".
<b>Mais polêmicas</b>
Em agosto de 2022, a Justiça de São Paulo condenou Leo Lins a pagar uma indenização por danos morais no valor de R$ 44 mil por ter ofendido a mãe de um jovem autista em uma rede social.
Em 2021, a Prefeitura de Guarujá, no litoral de São Paulo, cancelou a apresentação do humorista no Teatro Municipal, alegando que foram detectados problemas nas instalações elétricas do espaço. Leo Lins se pronunciou definindo a atitude do município como censura, e afirmou que o cancelamento ocorreu logo após ele postar um vídeo com piadas citando a prefeitura.
Apoio de Fábio Porchat
Diante da repercussão do caso, o humorista Fábio Porchat veio a público se manifestar a favor do colega. Em um longo texto publicado no Twitter, o artista destacou que "dentro da Lei, pode-se fazer piada com tudo". E pediu: "Não entrem nessa conversa com a emoção, entrem com a razão".
"Não gosta de uma piada? Não consuma essa piada. Se a piada não incitou o ódio e a violência ela é só uma piada. Tem piada de todos os tipos, de pum e de trocadilho, ácida e bobinha. Tem piada de mau gosto? Tem também. Tem piada agressiva? Opa. Mas aí é só não assistir. Quem foi lá assistir ao @LeoLins adorou. Riram muito. Quem não gostou das piadas são os que não foram. Pronto, assim que tem que ser. Ah, mas faz piada com minorias E qual o problema legal? Nenhum. Dentro da lei pode-se fazer piada com tudo, tudo, tudo", iniciou.
E continuou: "Não gostar de uma piada não te dá o direito de impedir ela de existir. Ainda mais previamente. Impedir o comediante de pensar uma piada é loucura. Mesmo que você não goste desse comediante, mesmo que você despreze tudo o que ele diz, ele tem o direito de dizer. Ele tem o direito de ofender. Não existe censura do bem. Se cada pessoa que se ofender com uma piada resolver tirar ela do ar não sobra um Joãozinho, um papagaio, um argentino. Pra mim democracia não é um regime pra você defender as suas ideias, mas pra quem você não concorda poder defender as delas. Não confundam "não gosto dele" com "ele não pode falar". Não entrem nessa conversa com a emoção, entrem com a razão", finalizou.
O post de Fábio Porchat recebeu muitas críticas de seguidores. "Que decepção Porchat, que decepção! Racismo, Preconceito, Homofobia, Misoginia, não são piadas", destacou um deles. "É através de piadas que o preconceito é "mascarado" desde a infância, em cima de clichês como "não teve intenção", "não foi por maldade", dentre outros. E assim segue sendo normalizado por gerações. E não deve ser muito difícil pra você entender e concordar com isso, de tão óbvio que é", escreveu outro.
A cantora Teresa Cristina também opinou. "Qual o problema legal em uma piada racista? É isso mesmo?", escreveu ela, na postagem do humorista.