A Polícia Militar prendeu neste domingo, 18, o empresário de mineração Dirceu Santos Frederico Sobrinho, conhecido como "rei do ouro", durante uma blitz, em Moema, na zona sul da cidade de São Paulo. Contra Sobrinho havia uma ordem de prisão temporária expedida pela Justiça Federal de Porto Velho, em Rondônia, em um processo sigiloso que apura a extração ilegal de ouro em terras indígenas na Amazônia.
Frederico Sobrinho, que é também presidente da Associação Nacional do Ouro (Anoro), entidade de defesa dos garimpeiros, foi levado para a superintendência da Polícia Federal em São Paulo, onde ficou detido.
Em maio, a Polícia Federal apreendeu, na Rodovia Castelo Branco, em Itu, um carregamento de 77 kg de ouro, avaliado em R$ 23 milhões, que era transportado para uma das empresas de Sobrinho, a FD Gold, distribuidora de valores com sede na Avenida Paulista, na capital. Na época, o empresário gravou um vídeo afirmando que o metal tinha sido extraído legalmente de lavra garimpeira concedida, não pertencendo a terras indígenas, nem a garimpos ilegais.
O episódio chamou a atenção porque as barras de ouro eram escoltadas por quatro policiais militares, entre eles um tenente-coronel da Casa Militar, órgão do gabinete do governador, responsável pela segurança do Palácio dos Bandeirantes. Quando a apreensão aconteceu, o oficial da PM estava licenciado do cargo. Naquela oportunidade, os policiais alegaram que apoiavam o transporte de valor para uma empresa devidamente legalizada.
As barras de ouro foram transportadas em um avião turboélice do empresário que estava bloqueado pela Justiça e não poderia voar, por isso era monitorado pela PF. A aeronave pousou no aeroporto de Sorocaba, onde o metal foi transferido para um carro e era levado para a capital.
A PF abriu inquérito para averiguar se houve prática dos crimes de usurpação de bens da União e receptação dolosa. Segundo documentos apreendidos, a carga de ouro saiu de garimpos do Mato Grosso e do Pará. A Polícia Federal foi consultada pela reportagem sobre o andamento da investigação, mas não deu retorno.
A empresa FD Gold é alvo de ação judicial para suspender suas operações por suspeita de garimpo ilegal. A ação tramita na Justiça Federal de Itaituba, no Pará. O Ministério Público Federal daquele estado acusa a empresa de Frederico e outras duas empresas do setor de terem negociado no mercado nacional e internacional mais de 4,3 toneladas de ouro ilegal nos anos de 2019 e 2020.
Segundo a denúncia, só a FD Gold comercializou 1,3 tonelada de ouro, segundo o MPF, extraído de garimpos ilegais na região sudoeste do Pará. Conforme o órgão federal, outros inquéritos e investigações sobre a atuação da empresa de Dirceu Frederico estão em andamento em caráter sigiloso. No vídeo que divulgou em sua defesa, o dono da FD Gold negou também essas acusações.
A Justiça Federal de Porto Velho informou que o processo envolvendo Frederico Sobrinho está com sigilo decretado. Procurado, o MPF de Rondônia não deu retorno. A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo ainda não deu retorno sobre as circunstâncias da prisão do empresário do ouro.
Também procuradas, a assessoria de imprensa da FD Gold, a defesa de Frederico Sobrinho e a Anoro não tinham respondido aos questionamentos até o encerramento da reportagem.