Estadão

Kim Jong-un está a caminho da Rússia para encontro com Vladimir Putin

Um trem norte-coreano que supostamente transportava o líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, partiu para a Rússia para um possível encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, de acordo com informações da mídia sul-coreana nesta segunda-feira.

Citando fontes não identificadas do governo sul-coreano, o jornal Chosun Ilbo, um dos principais da Coreia do Sul, informou que o trem provavelmente saiu da capital norte-coreana, Pyongyang, na noite de domingo, 10, e que uma reunião entre os dois líderes é possível já na terça-feira, 12.

O Gabinete Presidencial da Coreia do Sul e o Serviço Nacional de Inteligência do país não confirmaram imediatamente as informações.

Autoridades norte-americanas divulgaram na semana passada informações de que a Coreia do Norte e a Rússia iriam organizar uma reunião entre os seus líderes no mês de setembro, à medida que expandem a sua cooperação em meio a tensões dos dois países com os Estados Unidos.

Um possível local para a reunião é a cidade de Vladivostok, no leste da Rússia, onde Putin chegou nesta segunda-feira, 11, para participar num fórum internacional que irá ocorrer até quarta-feira, 13, segundo a agência de notícias russa TASS. A cidade também foi palco do primeiro encontro de Putin com Kim em 2019.

De acordo com autoridades norte-americanas, Putin poderia se concentrar em garantir mais fornecimentos de artilharia da Coreia do Norte e outras munições para reabastecer as reservas em declínio, enquanto procura neutralizar a contraofensiva ucraniana e mostrar que é capaz de travar uma longa guerra contra Kiev. Isso poderia potencialmente colocar mais pressão sobre os Estados Unidos e os seus parceiros para prosseguirem as negociações com Moscou, à medida que aumentam as preocupações sobre um conflito prolongado, apesar dos enormes envios de armamento do Ocidente para a Ucrânia nos últimos 17 meses.

A Coreia do Norte tem possivelmente possui milhões de projéteis de artilharia e foguetes baseados em projetos soviéticos que poderiam potencialmente dar um enorme impulso ao exército russo, dizem analistas.

<b>Troca</b>

Em troca, Kim poderia procurar ajuda energética e alimentar extremamente necessária e tecnologias para armas avançadas, incluindo aquelas relacionadas com mísseis balísticos intercontinentais, submarinos de mísseis balísticos com capacidade nuclear e satélites de reconhecimento militar, de acordo com analistas.

Há preocupações de que potenciais transferências de tecnologia russa possam aumentar a ameaça representada pelo crescente arsenal de armas nucleares e mísseis de da Coreia do Norte, concebidos para atingir os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão.

Depois de uma relação complicada e fria durante décadas, a Rússia e a Coreia do Norte têm-se aproximado desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em Fevereiro de 2022. O vínculo foi impulsionado pela necessidade de Putin de ajuda na guerra e pelos esforços de Kim para impulsionar o visibilidade das suas parcerias com Rússia e China enquanto tenta romper o isolamento diplomático e fazer com que a Coreia do Norte faça parte de uma frente unida contra Washington.

Ao utilizar a distração causada pelo conflito na Ucrânia para acelerar o seu desenvolvimento de armas, a Coreia do Norte culpou repetidamente os Estados Unidos pela crise na Ucrânia, alegando que a "política hegemónica" do Ocidente justificava uma ofensiva russa na Ucrânia para se proteger.

A Coreia do Norte é a única nação, além da Rússia e da Síria, a reconhecer a independência de duas regiões separatistas apoiadas pela Rússia no leste da Ucrânia – Donetsk e Luhansk – e também sugeriu um interesse em enviar trabalhadores da construção civil para essas áreas para ajudar na reconstrução da região.

A Rússia – juntamente com a China – bloqueou os esforços liderados pelos EUA no Conselho de Segurança da ONU para reforçar as sanções à Coreia do Norte devido à intensificação dos seus testes de mísseis, ao mesmo tempo que acusou Washington de agravar as tensões com Pyongyang ao expandir os exercícios militares com a Coreia do Sul e o Japão.

<b>Armas</b>

Os Estados Unidos acusam a Coreia do Norte desde o ano passado de fornecer armas à Rússia, incluindo granadas de artilharia vendidas ao grupo mercenário russo Wagner. Autoridades russas e norte-coreanas negaram tais alegações. Mas as especulações sobre a cooperação militar dos países aumentaram depois que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, fez uma rara visita à Coreia do Norte em julho, quando Kim Jong-un o convidou para uma exposição de armas e um enorme desfile militar em Pyongiang.

Jon Finer, vice-conselheiro-chefe de segurança nacional do presidente dos EUA, Joe Biden, disse aos repórteres no domingo que comprar armas da Coreia do Norte "pode ser a melhor e pode ser a única opção" aberta a Moscou enquanto tenta manter seu esforço de guerra em andamento.

"Temos sérias preocupações sobre a possibilidade de a Coreia do Norte vender potencialmente armas aos militares russos. É interessante refletir por um minuto sobre a mensagem que isso passa quando a Rússia dá a volta ao mundo à procura de parceiros que a possam ajudar e termina na Coreia do Norte", disse Finer a bordo de um avião que transportava Biden da Índia para o Vietnã.

Alguns analistas dizem que um potencial encontro entre Kim Jong-un e Putin teria mais a ver com ganhos simbólicos do que com uma cooperação militar substancial. A Rússia – que sempre resguardou as suas tecnologias de armamento mais importantes, mesmo de aliados importantes como a China – pode não estar disposta a fazer grandes transferências de tecnologia com a Coreia do Norte.

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