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Kings Man: A Origem não consegue achar o tom certo

São muitos os prazeres de assistir a Ralph Fiennes no papel principal de uma franquia de ação nesta fase da sua carreira. Por mais divertido que seja vê-lo fazendo bon vivants eruditos, canalhas e esnobes, você sempre sai querendo mais M. Gustav, mais Laurence Laurentz, mais Harry Hawkes. Com esse espírito, The Kings Man, história de origem da irreverente série Kingsman, de Matthew Vaughn, oferece um banquete definitivo, e Fiennes está charmoso como sempre. Mas também é difícil não desejar que ele tivesse um filme melhor do que este para exibir seu carisma singular e suas habilidades de combate.

Kings Man: A Origem – que volta no tempo até a Primeira Guerra Mundial, para contar a história dos primeiros dias da agência de espionagem – é uma melhoria em relação ao último filme, que, entre outras escolhas malucas, trazia Julianne Moore alimentando alguém com um hambúrguer feito de carne humana que ela mesma moera e grelhara. Este longa é decididamente mais esquisito do que isto, mas ainda é um filme Kingsman – maníaco, atrevido e vulgar – e não quer convencer ninguém que já não estivesse a bordo.

Kings Man: A Origem também tem aquela tensão incômoda de seu contexto histórico, que o filme usa tanto para dar um embalo emocional sincero quanto para alimentar a irreverência. No seu cerne, é uma história sobre uma agência de espionagem fictícia que culpa um amargurado fazendeiro de cashmere escocês pela Primeira Guerra Mundial e seus 20 milhões de mortos. Esse homem misterioso, que só é visto nas sombras até uma grande revelação final, é interpretado como um Fat Bastard (o vilão da franquia Austin Powers) mais raivoso e sádico, mas não menos ridículo. Ele consegue manipular líderes mundiais (Tom Hollander interpreta o rei George, o Kaiser Wilhelm e o czar Nicolau) com sua esfera de influência que inclui Rasputin (Rhys Ifans), Erik Jan Hanussen (Daniel Bruhl), Mata Hari (Valerie Pachner) e Gavrilo Princip (Joel Basman).

Fiennes, que também é o produtor executivo, interpreta o duque de Oxford, a quem somos apresentados quando sua esposa é morta a tiros na frente dele e de seu filho durante a Guerra dos Bôeres. Ele retorna à Inglaterra com uma missão: proteger seu filho, Conrad.

Alguns anos se passam e Conrad cresce e se torna um rapaz arrojado e patriota, interpretado com admirável honradez por Harris Dickinson, que não quer nada além de entrar para o exército. Temendo as linhas de frente, o duque tenta convencer Conrad a se juntar ao seu pequeno grupo de espiões, composto por ele próprio e dois criados domésticos, Polly (Gemma Arterton) e Shola (Djimon Hounsou), para manipular os bastidores da política mundial.

Depois de quase evitar o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, sua primeira aventura como quarteto envolve ir à Rússia para subornar Rasputin ou matá-lo. A sequência toda é de cair o queixo: eles tentam enganar Rasputin – que Ifans interpreta como um astro do rock caricato e ensandecido – com guloseimas envenenadas que ele prontamente dispensa com uma teatralidade grotesca.

No verdadeiro estilo Kingsman, a sequência também traz Fiennes arrancando suas calças e Rasputin dançando e lutando sob a trilha de 1812 Overture. A palavra sutileza não está no vocabulário, então se prepare para uma reviravolta quando o filme de repente se transforma num drama de guerra e depois volta mais uma vez para o tom absurdista.

A certa altura, fica claro que The Kings Man não só é uma bagunça tonal: é também uma preparação para um filme com um elenco ainda mais atraente que vai deixar você ainda mais confuso. Mas não dá para não admirar uma franquia moderna que tem como princípio fundamental o elogio à alfaiataria. Seria ótimo se seus filmes também não tivessem o humor juvenil em alta estima. (Tradução de Renato Prelorentzou)

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