O multibilionário fundo americano KKR amargou um prejuízo de cerca de R$ 1,5 bilhão com a empresa brasileira Aceco, especializada em fornecer salas-cofre para data centers. Este foi o primeiro investimento do fundo no Brasil e, desde que comprou a companhia, há menos de dois anos, o fundo só teve problemas. A Aceco está inadimplente no mercado, perdeu 400 funcionários nos últimos meses e os novos contratos escassearam. Além disso, o KKR tenta desfazer o negócio com os antigos sócios da empresa, sob alegação de ter encontrado fraudes contábeis e indícios de corrupção.
Na semana passada, o fundo americano sofreu outro revés. A Justiça reconheceu a compra de debêntures (papéis de dívida) que estavam nas mãos do Bradesco por um dos sócios minoritários, Jorge Nitzan. A família Nitzan era a antiga acionista controladora da empresa, que, junto com o fundo General Atlantic, vendeu 85% da Aceco para o KKR. A compra das debêntures tem um efeito: como a dívida, que não foi paga, era garantida por ações da empresa, a Aceco agora terá de ser colocada à venda. A opção para o KKR é depositar em juízo uma garantia de R$ 250 milhões para, com isso, retomar a empresa.
A Aceco TI é uma empresa muito conhecida no setor público. Até 2014, faturava cerca de R$ 1 bilhão com contratos que vão desde órgãos da Justiça, como tribunais do trabalho e Corregedoria Nacional da Justiça (CNJ), passando pelo Senado, por órgãos diversos do governo federal e chegando até empresas e secretarias de governos estaduais. Os serviços da companhia também se estendem a empresas privadas de grande porte. O grande trunfo da Aceco é ser a única do País com um selo técnico específico de qualidade no fornecimento de salas-cofre que confere a apenas à companhia a condição de poder prestar serviços para setores públicos. Várias licitações de que participou chegaram a ser questionadas, mas, nos casos analisados pelo TCU, a exclusividade foi reconhecida.
Suspeita
Agora, o KKR questiona alguns contratos com empresas fornecedoras da Aceco. O fundo alega, em um processo arbitral aberto contra os antigos sócios, ter encontrado cerca de R$ 57 milhões em pagamentos suspeitos feitos a 35 empresas de fachada entre os anos de 2012 e 2014. Outro ponto levantado pelo KKR na arbitragem, uma espécie de justiça privada, é de que aconteceram fraudes contábeis na empresa.
O fundo não fala do assunto e se pronunciou apenas por nota. “Estamos tentando recuperar as perdas relacionadas a fraudes e corrupção por parte dos antigos administradores da companhia”, diz o texto. “Todo este assunto está sendo levado a autoridades no Brasil e nós respeitamos seus processos”.
Jorge Nitzan também se manifestou por meio de nota. Na versão do acionista minoritário, o fundo americano errou o tempo do investimento. “A KKR comprou o controle da Aceco pouco antes de uma crise econômica sem precedentes no Brasil, com uma forte depreciação do Real no período”, diz trecho da extensa nota enviada ao jornal.
“Agora, a KKR está tentando desfazer o negócio e, para isso, culpa os outros sócios da Aceco por sua aquisição mal planejada, fazendo uma série de acusações, inclusive contra o Sr. Jorge Nitzan.” No texto, o acionista minoritário explica também que comprou a dívida do Bradesco para tentar salvar a empresa da falência. O outro ex-sócio, o fundo General Atlantic, não quis comentar o episódio.
Todo o caso corre em segredo de justiça ou sigilo do processo arbitral. O Estado no entanto teve acesso a uma série de documentos que foram anexados a um processo judicial há cerca de duas semanas e que, por alguns dias, permaneceram públicos. Nele, Nitzan acusa executivos da empresa de terem roubado documentos da companhia e transferido patrimônio no dia em que foi efetivada a compra do crédito do Bradesco.
A Auckland, empresa que na cadeia societária da Aceco é o veículo usado pelo KKR no investimento, transferiu os possíveis direitos da causa arbitral, estimada em US$ 560 milhões, à KKR. Em conversas telefônicas, transcritas nos documentos do processo, os executivos aventam a possibilidade de o objetivo de Nitzan, ao comprar a dívida do Bradesco, ser a de evitar que o processo arbitral siga em frente e com isso ter que devolver o dinheiro resultado da compra em meados de 2014. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.