Estadão

Léa Freire e Sinéad OConnor são destaques de festival de documentários

Nos últimos anos, ela tem mudado de nome. Sinéad OConnor virou Magda Davitt, converteu-se ao islamismo e trocou de novo de nome, para Shuhada Sadaqat. Em janeiro deste ano, viveu a que talvez seja a maior tragédia de sua vida. O filho Shane, de 17 anos, sofria de depressão. Desapareceu por dois dias e apareceu morto. Uma semana mais tarde, Sinéad foi internada para tratar o próprio colapso nervoso.

Cantora e compositora irlandesa, Sinéad OConnor prescinde de apresentação. Teve atitudes fortes, polêmicas, como quando rasgou a foto do papa João Paulo II, em protesto contra casos de pedofilia na Igreja. O documentário que abre o 14º In-Edit Brasil nesta quarta, 15, às 20h30, no Cinesesc, é sobre ela: Nothing Compares, de Kathryn Ferguson.

Mas há outro documentário no festival, e esse talvez venha a ser o grande destaque de toda a programação. É sobre uma grande, imensa artista brasileira que talvez necessite de apresentação.

<b>BISCOITO FINO</b>

Léa Freire é um daqueles biscoitos finíssimos a que se referia Oswald de Andrade quando falava de cultura. Pianista, flautista, compositora, exercita-se no território da música instrumental. Léa já tocou com grandes nomes, mas eles é que se congratulam por se apresentar com ela.

A Música Natureza de Léa Freire terá apresentações neste domingo, 19, às 16 h, no Cine Olido, sessão com a equipe, seguida de show com a Banda Mantiqueira. Terá mais duas sessões. Na quarta, 22, às 20h30, no Cinesesc, de novo com a equipe, e na quinta, 23, às 19 h, na Sala Spcine Roberto Santos. Lucas Weglinski é o diretor. Você sabe quem é. Fez o documentário sobre os 60 anos do Teatro Oficina, Máquina do Desejo.

Como uma artista do tamanho de Léa permanece secreta? Durante toda a vida, exercitando-se num território tão masculino como o da música instrumental, Léa conheceu o preconceito. "Já ouvi que mulher não devia se apresentar na noite, que mulher não compõe. Antes, quando mostrava minha música, era tímida. Quando me perguntavam Quem compôs?, ficava paralisada, sem resposta. Agora já perdi minha paciência. Foi a sua mãe! Fiquei desbocada." E Léa solta a risada que é sua marca. Ainda garota, foi amadrinhada por Alaíde Costa. Alaíde dá seu depoimento. "Acolhi a Léa na minha casa. A gente chegou a se apresentar num projeto social, tocava para adolescentes em prisões juvenis." Até hoje Léa segue com projetos sociais.

O diretor resgata imagens captadas há décadas por Rita Moreira. Rita quem? "É uma grande documentarista que hoje, infelizmente, está esquecida." Lucas utiliza duas vezes imagens daqueles jovens – Pixotes? A música transforma.
Transformou a própria Léa. A música levou-a pelo mundo. Aos EUA. Um de seus admiradores é Keith Underwood, considerado um mago da flauta. Para ele, Léa compôs Vento em Madeira, uma peça instrumental belíssima, e difícil, que Léa tira de letra ao piano. Ela dá sua receita: "Treino em casa todo dia, oito horas, para que depois no palco, com os amigos, a música possa ser alegria, confraternização". Léa estudou administração. Fundou em 1997 o selo Maritaca, que virou referência.

No filme, Léa se apresenta com outros artistas, homens e mulheres. Algumas criam personas no palco. Belas, exóticas. Léa não liga para essas coisas. "Nunca liguei, e agora menos ainda." Você olha para aquela senhora e não imagina que ela domine o palco com tanta desenvoltura. "Não é fácil ser mulher e dividir o palco com os homens", diz ela.

<b>HÍBRIDO</b>

Com um total de 67 títulos, entre curtas e longas, filmes nacionais e internacionais, o 14º In-Edit ocorrerá de 15 a 26, em formato híbrido. Será presencial em São Paulo e online para todo o Brasil.

As atrações brasileiras incluem documentários, além do de Léa, sobre, e com, Belchior, Sidney Magal, Garotos Podres, o rapper Alan. Entre os destaques do Panorama Mundial, além de Sinéad, prepare-se para ver Tina Turner, Rick James, A-ha, Thelonious Monk, Dinosaur Jr.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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