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Lado inventor de Da Vinci é tema de exposição em SP

Mais que atestar o poder visionário de um renascentista, a exposição Leonardo da Vinci: A Natureza da Invenção, que será aberta nesta segunda, 10, às 19h30, para convidados, e na terça, 11, para o público, no Centro Cultural Fiesp (Galeria do Sesi), pretende colocar num patamar real a figura do criador da Mona Lisa, deixando de lado o mito do gênio voluntarioso difundido em todos esses séculos. Ou seja: segundo o curador italiano Claudio Giorgione, a mostra situa Da Vinci (1452-1519) em seu tempo, no contexto em que viveu, revelando as dificuldades que enfrentou para impor sua visão a poderosos ou para lidar com a limitada tecnologia de 500 anos atrás.

Exibida com sucesso em Paris há dois anos, a exposição reúne mais de 40 maquetes produzidas em 1952 para a celebração do quinto centenário de nascimento de Da Vinci. Baseando-se em desenhos originais, engenheiros e pesquisadores recriaram máquinas de voar, gruas gigantescas, um tear revolucionário, carros de combate e até um escafandro de mergulho, expondo esses objetos, em 1953, no Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci de Milão, hoje proprietário desse acervo. Uma série de peças dessa coleção pode ser vista na mostra interativa, que deve atrair especialmente a atenção das crianças pelo modo didático como foi organizada.

Por meio de vídeos, é possível saber como as formas de movimento da natureza – da água, dos pássaros, dos cavalos – inspiraram Da Vinci a conceber os mais alucinantes instrumentos do Renascimento italiano. Ele tinha interesse particular por projetos, pelo desenho desses instrumentos e máquinas, mas não ligava propriamente para sua concretização – tanto que grande parte deles só viria a tomar forma séculos depois. O visitante poderá ver, por exemplo, como a observação dos movimentos de uma aranha levaram o artista a conceber o tear automático que viria a ser usado na revolução industrial inglesa, ou como o movimento das asas de um morcego o levaram a criar um objeto voador muito semelhante a uma contemporânea asa delta.

O curador da mostra, Claudio Giorgione, defende que todos esses objetos, embora concebidos por um iniciado em engenharia, só podiam ter saído da cabeça de um artista – e ele enfatiza o papel do desenho como “ferramenta primordial para compreender o mundo” no caso de Da Vinci, cuja habilidade foi notada e instrumentalizada por famílias poderosas como os Sforza de Milão.

Para ser admitido no círculo da mais temida família de governantes da Itália entre os séculos 14 e 15, Da Vinci teve de provar sua capacidade inventiva no campo militar. Há na mostra um carro de assalto desenhado para o duque de Milão, uma espécie de metralhadora renascentista capaz de disparar projéteis simultaneamente, que não chegou a ser construída na época por falta de recursos tecnológicos.

Dividida em seis módulos, além de uma introdução, a mostra privilegia o lado high-tech de Da Vinci, exibindo uma grua de quatro metros de altura que ele projetou com base num modelo do arquiteto Filipo Brunelleschi (1377-1446), autor da cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore, em Florença, construída em 1434. A grua criada por Da Vinci está exposta na área de acesso à exposição com seus cabos, roldanas e engrenagens dentadas capazes de erguer objetos pesados, hoje reproduzidas em escala maior nas construções de grandes torres.

“Esse é outro aspecto que a mostra esclarece, o de um Da Vinci que não concebe nem faz tudo sozinho, mas reaproveita ideias como a de Brunelleschi, para aperfeiçoar invenções alheias”, diz o curador, apontando outro exemplo: a balestra (carro para lançar pedras contra os inimigos numa batalha) que o engenheiro Roberto Valturio (1405-1475) projetou e que foi recriada em 1483 pelo autor da harmoniosa pintura da Virgem dos Rochedos. “Queremos acentuar que Da Vinci era um homem de seu tempo, um artista que viveu num contexto muito rico, inspirador.”

Pragmático, ele criou uma máquina de entalhar limas – uma de suas primeiras invenções do período florentino – e aproveitou o projeto do francês Villard de Honnecourt para desenhar uma serra hidráulica, ambas na mostra, ao lado de uma grua escavadora de canais, além de uma catapulta de mola que reciclou de um antigo projeto dos ancestrais romanos. “O que eu considero mais importante, porém, era sua capacidade analógica de relacionar em desenhos as ramificações de uma árvore com a estrutura coronária, por exemplo”, conclui o curador.

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