Mayra Cotta, advogada que defende Dani Calabresa e outras funcionárias da Globo que acusam Marcius Melhem de assédio sexual e moral, falou sobre as recentes declarações do ex-chefe do humor da emissora em entrevista ao Domingo Espetacular no domingo, 7.
"Estou processando a advogada, dra. Mayra Cotta. Desde ontem entrei com um processo contra ela para que prove o que ela diz sobre mim, sobre as condutas violentas que ela diz que eu tive", afirmou Melhem na última sexta-feira, 5, em entrevista ao <i>UOL</i>.
"A pessoa que acusa não pode escolher a pena do acusado. A pessoa que me acusa de assédio sexual não pode escolher que a minha pena é a execração pública e pronto. Isso é o fim do estado democrático de direito, o descrédito completo da Justiça", prosseguiu.
Ele também falou sobre sua ex-colega: "Estou interpelando a Dani Calabresa para que ela confirme ou desminta o teor da matéria da Piauí, porque eu e ela sabemos que aquilo ali não aconteceu. Eu sou a pessoa mais interessada que tudo isso seja esclarecido".
<b>Acho lamentável, diz advogada</b>
Em entrevista a Roberto Cabrini, na Record, Mayra Cotta comentou: "A tática mais antiga entre os assediadores é tentar desacreditar, reduzir, diminuir a dor das vítimas".
"Eu acho lamentável que uma advogada representando vítimas de assédio sexual seja também colocada na posição de vítima, diante de uma ameaça desse tipo. Eu acho perigoso que a função de advogada esteja sendo ameaçada desse jeito", continuou.
De acordo com Mayra Cotta, seriam "mais de 10 anos de abusos morais e sexuais" por parte de Marcius Melhem. Questionada sobre provas, citou: "Existe a palavra das vítimas, uma investigação interna e testemunhas".
Perguntada se acredita que houve "omissão" por parte da Globo, respondeu: "Não. Eu diria que faltou o reconhecimento da gravidade do caso delas."
<b>Entenda as acusações de assédio sexual a Marcius Melhem</b>
As primeiras denúncias surgiram no fim de 2019, e foram negadas por Melhem. O nome de Dani Calabresa foi citado, ao lado do de Maria Clara Gueiros, entre as denunciantes, em postagem feita pelo jornalista Leo Dias na ocasião.
Em março de 2020, ele se afastou do comando do humor da emissora, e também de suas funções como roteirista e ator, alegando a necessidade de acompanhar tratamento de saúde de sua filha.
O período inicial de licença seria de quatro meses. Em vez de retornar, porém, Marcius Melhem teve seu contrato com a emissora encerrado após 17 anos. No comunicado final, a emissora destacou sua "importante contribuição para a renovação do humor" e não citou as acusações de assédio, o que teria gerado insatisfação em alguns artistas que acompanharam o caso internamente.
Em 24 de outubro, uma reportagem da <i>Folha de S.Paulo</i>, trouxe entrevista com a advogada Mayra Cotta, que assessora um grupo de artistas que endossam as acusações contra Marcius Melhem. O nome de Dani Calabresa ainda não havia sido confirmado, até então.
"Houve um comportamento recorrente, de trancar mulheres em espaços e as tentar agarrar, contra a vontade delas. De insistir e ficar mandando mensagem, inclusive de teor sexual, para mulheres que ele decidia se iam ser escaladas ou não para trabalhar, se ia ter cena ou não para elas. De prejudicar as carreiras de mulheres que o rejeitaram. De ficar obcecado, perseguindo, mesmo. Foi um constrangimento sistemático e insistente, muito recorrente", relatou.
Pouco depois, em seu Twitter, Marcius Melhem se manifestou publicamente sobre as acusações pela primeira vez. "Diante de acusações tão graves, que de forma alguma cometi, o que eu posso fazer? Negar. Coloco à disposição toda minha comunicação que tenho arquivada, com qualquer pessoa que tenha trabalhado ou se relacionado comigo nesses anos", afirmou.
"Mas, mesmo abraçando profissionalmente a causa feminista, ainda combato o machismo dentro de mim, erro, posso ter relações que magoem. Tento melhorar e aprender. E queria muito falar sobre isso", disse, em outro momento.
Na sexta-feira, 4 de dezembro, a revista <i>Piauí</i> publicou novos detalhes sobre o caso, após ter colhido depoimentos de 43 pessoas, entre vítimas e testemunhas, muitas das quais na condição de anonimato. Entre os relatos, há detalhes dos supostos assédios que teriam sido praticados por Melhem e relatados ao compliance da emissora, incluindo os de Dani Calabresa.
Também há relatos de medidas que teriam sido tomadas por funcionários da Globo em relação à situação, como uma sugestão de que Marcius Melhem fizesse terapia após uma acusação.
Marcius Melhem negou as acusações e afirmou que iria processar a advogada Mayra Cotta e interpelar Dani Calabresa na Justiça. Em nota, a Globo não cita diretamente o caso de Melhem, mas afirma que incentiva que "qualquer abuso seja denunciado"