Fora do Brasil desde 2017, o atacante Léo Jabá, ex-Corinthians, se vê envolto, hoje, em uma série de contrastes na Grécia. Profissionalmente, está em uma temporada de pausa e de provação após se destacar no fim de um jejum de 34 anos sem títulos nacionais do PAOK. Pessoalmente, vive em um país que havia sido devastado por uma crise econômica, mas que agora é exemplo no combate ao coronavírus.
A crise iniciada em 2008 provocou graves efeitos na Grécia, que precisou de ajuda externa, com empréstimos, e medidas de austeridade, com redução de benefícios, o que provocou alta no desemprego. O país ainda não se recuperou completamente deste cenário, mas vem sendo eficiente para lidar com o coronavírus.
Próxima de Itália e Espanha, a Grécia tem resultados muito melhores no combate à covid-19, com apenas 146 mortes até a última terça-feira, de acordo com a OMS. E isso possui relação direta com as medidas adotadas antes mesmo da primeira morte no país pela virose, como o cancelamento de eventos públicos, incluindo o carnaval, e o fechamento de bares e restaurantes.
E, principalmente, a adoção de um "lockdown" efetivo. Vivendo em Salonica, cidade do PAOK, Léo Jabá só saiu de sua residência por semanas para duas situações: compras no supermercado e consultas médicas. Mas, como explicou à reportagem do Estado, só após receber uma autorização via SMS das autoridades públicas.
"Tem um código para mandar SMS e aí aguardamos um retorno. Se formos parados pela polícia, você mostra o código, que foi autorizado a ir à rua. São 12 itens", explica o ex-jogador do Corinthians. "Só saio para ir ao mercado, uma vez a cada 15 dias. E aí também aproveito para ir à clínica. Mas tive colegas do clube que foram multados por saírem na rua sem autorização", acrescenta.
As medidas surtiram efeito, tanto que a Grécia inicia, aos poucos, a retomada das atividades, com a reabertura de algumas lojas nos últimos dias após seis semanas de quarentena. Além disso, os clubes começam a ensaiar a volta aos treinos, com a realização de testes para que os atletas tenham aval para treinar. Mas nem todos respeitaram o período de isolamento social, iniciado em março.
Há duas semanas, cerca de 200 torcedores do PAOK quebraram a quarentena e foram aos arredores do Estádio Toumba celebrar o aniversário de 94 anos do clube de Salonica, só sendo dispersados pela polícia com o uso de gás lacrimogêneo. "Eles são doentes mesmo, para mim que vivi no Corinthians, é bem igual. Furaram a quarentena no dia do aniversário, foram para frente do estádio. É um povo simples, que vive para o clube", relata Léo Jabá.
A euforia da torcida tem lá suas razões. Afinal, na temporada 2018/2019, o clube se sobrepôs aos rivais de Atenas e voltou a ser campeão grego após 34 anos. E com uma campanha invicta. Léo Jabá, que havia trocado o Akhmat Grozny – time russo que o tirou do Corinthians em 2017 – pelo PAOK antes do início do campeonato, foi um dos destaques, sendo o líder de assistências do clube na temporada, com 11, em diferentes torneios, além de sete gols marcados em 39 jogos.
"Foi excelente, para mim e para o clube. Ficou para história, não éramos campeões há 34 anos, e venci logo no primeiro ano aqui. Me sentia como se tivesse subido da base, me deram confiança e aí as coisas aconteceram naturalmente", relembra o atacante brasileiro.
O brilho da primeira temporada contrastou com as dificuldades do início da segunda. O PAOK passou por mudança de técnico, com o romeno Razvan Lucescu indo para o Al-Hilal, da Arábia Saudita, sendo sucedido pelo português Abel Ferreira. E Léo Jabá não marcou gols nos nove jogos que disputou até outubro, depois se afastando dos gramados por causa de uma lesão no menisco do joelho direito, operado em novembro e com uma demorada recuperação. "A gente foi pego de surpresa pela troca de treinador, com mudança de filosofia. Ele quis colocar o estilo dele e depois acabei me lesionando", relata Léo Jabá.
O problema que o mantém afastado dos gramados tornou o fisioterapeuta do clube uma das poucas pessoas com quem ele convive durante a quarentena, nas visitas para o tratamento na sua residência. A principal é sua mãe, que viajou à Grécia para passar alguns dias com o filho. E precisou permanecer em Salonica por causa da quarentena.
A situação, inclusive, provocou uma divisão de família. Afinal, seu pai e o irmão Leandro Jabá, que disputou a última Copa São Paulo pelo Oeste, haviam retornado dias antes ao Brasil. "Ele retornou porque ia voltar os treinos na base. Se a gente soubesse, teria todo mundo ficado junto na quarentena aqui", explicou.
Na companhia da mãe, então, termina de se recuperar da lesão no joelho em casa, com trabalhos de fortalecimento muscular, para voltar a defender o PAOK na reta final da temporada, ainda sem data para ser retomada e o que deve ocorrer sem a presença de torcedores nos estádios, algo que incomoda Léo Jabá, também ainda preocupado com o coronavírus. Antes da pausa, seu time era o vice-líder do campeonato nacional e disputava as semifinais da Copa da Grécia.
"Jogar sem torcida é sem graça. Se tiver de voltar sem torcida, a gente vai ter de se adaptar. Mas não sei se seria o certo, teríamos contato com outros atletas e poderia pegar o vírus. A gente não sabe o que eles fazem. É preciso pensar bem em tudo", afirma o atacante de 21 anos e que fez sua estreia pelo Corinthians em 2016.