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‘Laranja’ no Panamá é elo entre Dirceu e outros alvos da Lava Jato

O ex-ministro José Dirceu (Governo Lula), o ex-diretor de Engenharia da Petrobras, Pedro Barusco e o ex-gerente da estatal Edison Krummenauer têm em comum suspeitas sobre a utilização do mesmo esquema para a abertura de empresas em paraísos fiscais. Documentos entregues pelos dois ex-agentes da petrolífera dão conta de que ambos os agentes da estatal utilizaram o mesmo “laranja” indicado pelo escritório Morgan & Morgan – que também registrou sede de empresa de José Dirceu no Panamá – para abrir offshores utilizadas para o recebimento de propinas.

José Eugênio da Silva Ritter, morador de um bairro de classe média no Panamá e funcionário do Morgan & Morgan, é a ligação entre os alvos da Lava Jato. Ritter controlou offshore sócia de um hotel em Brasília que quase empregou José Dirceu em 2013. À época, o petista – condenado no processo do Mensalão – estava em regime semiaberto e ganhou autorização para trabalhar.

Com a deflagração da Operação Asfixia, 40ª fase da Lava Jato, mais uma vez, as investigações revelam o uso de offshores registradas no Panamá para o recebimento de propinas. Em acordo de delação com a força-tarefa, o ex-gerente da Petrobras Edison Krummenauer, admitiu ter intermediado pelo menos oito contratos da estatal com empreiteiras pelo valor de R$ 15 milhões.

Após a manipulação de concorrências proporcionada pelo ex-gerente, preso última na quinta-feira, as empreiteiras que participavam do esquema para vencer licitações firmavam contratos fictícios com as empresas Akyzo e Liderrol – as duas companhias, supostamente de fachada, ficavam responsáveis pelo pagamento de propinas aos agentes públicos.

No caso de Krumennauer, os repasses das duas empresas foram feitos no exterior, via offshore aberta no Panamá. Os representantes da empresa de fachada nos registros daquele país são nomes já antes identificados pelas investigações. O principal elo entre esta e outras offshores utilizadas pelos alvos da Lava Jato para recebimento de propinas no Panamá seria o escritório Morgan & Morgan e seus funcionários.

Segundo documentos do acordo de colaboração, Edison Krtumennauer Ritter é um dos representantes da Kirwall Consultants S.A., aberta no Panamá e titular de contas no banco Julius Baer, na Suíça – instituição financeira que já abrigou propinas do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e do também ex-gerente da estatal Jorge Zelada, de acordo com as investigações.

O acordo de colaboração com a Justiça prevê para o ex-agente, além de pena de prisão por dez anos e tornozeleira eletrônica, a devolução de US$ 3,4 milhões depositados na Suíça, em nome da offshore Kirwall. Ele também foi obrigado a pagar de R$ 4,5 milhões em multas.

Os “laranjas” do escritório Morgan & Morgan, José Eugênio Ritter e Dianeth Isabel Ospino, que aparecem como administradores da Kirwall também figuram no quadro societário das offshores Rhea Comercial Inc. e Pexo Corporation, que foram utilizadas pelo ex-diretor da Petrobras Pedro Barusco – em delação, o ex-executivo da estatal admitiu ter aberto ambas em 2008 e que tentou fechá-las em 2014, mas teve o dinheiro bloqueado nas transferências.

Segundo Barusco, a Rhea recebeu US$ 11,2 milhões de propinas e a Pexo chegou a movimentar US$ 7,2 milhões – parte foi identificada como vantagens indevidas da Odebrecht.

O nome de José Eugênio Ritter ganhou espaço no noticiário quando o Jornal Nacional, da Rede Globo, revelou que ele era o detentor da Truston International, offshore aberta no Panamá pelo escritório Morgan & Morgan, que controlava o hotel Saint Peter, que ofereceu no fim de 2013 emprego a José Dirceu na sua primeira tentativa de migrar para o regime semiaberto. No hotel, o ex-ministro iria trabalhar como gerente, com salário de R$ 20 mil. Após a repercussão do caso, Dirceu desistiu do emprego.

Uma das filiais da JD Assessoria, apontada como empresa utilizada para receber propinas a José Dirceu, chegou a ser registrada no Panamá no mesmo endereço do escritório Morgan & Morgan. O Estado apurou que, em abril de 2009, numa alteração contratual, o ex-ministro decidiu tornar sem efeito a abertura da filial no Panamá. O ex-ministro negou que a empresa tenha operado naquele país e que sua constituição teria sido apenas no papel. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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