Talvez esta terça-feira, dia 15, seja o dia das grandes expectativas de Cannes. Começou com o retorno de Lars von Trier a Cannes, com “The House That Jack Built”. À noite terá, como num movimentado cartum – espera-se -, “Uma História Star Wars. Solo”.
Von Trier amargou sete anos de exílio do festival, desde que, em 2011, foi considerado persona non grata por declarações polêmicas durante a coletiva de “Melancolia”. Ao fim de uma divagação sobre o romantismo alemão, o autor dinamarquês disse que chegava a entender Adolph Hitler. Escândalo, escândalo! Foi chamado de nazista.
Ei-lo de volta a Cannes com seus atores, Matt Dillon e Bruno Ganz, mas sem direito a coletiva. O festival deve estar querendo se resguardar. Para falar com Von Trier, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo terá de esperar até a quarta-feira, 16.
“The House That Jack Built” passa-se ao longo de 12 anos, acompanhando as atividades de um serial killer. Numa cena, ele grita que matou 60 pessoas, e está prestes a assassinar a 61ª. A polícia, advertida, não leva a sério e o crime consolida-se.
Von Trier divide seu relato em cinco “incidentes”. O primeiro envolve Uma Thurman, que Jack/Dillon encontra numa estrada deserta. O carro enguiçou, o macaco (ferramenta) não funciona. Uma insiste que ele a ajude, mas fica o tempo todo a provocá-lo como serial killer potencial. Quando ele age, de forma muito violenta, alguém dirá que ela mereceu – é o tipo de humor macabro que Von Trier gosta de exercitar.
Ao longo desses e dos demais incidentes, as feministas vão encontrar mais do que suficientes elementos para protestar contra o machismo do diretor. A desumanidade marca o tom dos episódios – cinco como no filme de Jean-Luc Godard, “O Livro da Imagem”.
Von Trier adora uma provocação e carrega no que se espera seja o imaginário de um nazista. Durante todo o tempo ele está querendo construir a casa do título, mas o processo não avança. Na trilha, ele conversa com um misterioso Verge, mas Bruno Ganz só aparece no finalzinho. Graças a uma sugestão sua, Jack finalmente constrói a casa – o horror, o horror. “A Casa”, o filme, vai dar o que falar, como todo Von Trier. Esteticamente, é uma obra exigente, avançada. Está longe de ser prazerosa.
As vítimas de Jack podem gritar por socorro, ninguém as ajuda. No que seria, talvez, o sexto incidente, Verge leva Jack a conhecer o inferno. Antes disso, o diretor já mostrou que o inferno é aqui, nesse mundo desumano. Só para lembrar, Em “Um Beijo Antes de Morrer”, de James Dearden, Matt Dillon já interpretou, senão um serial killer, um assassino frio, e cruel.