Num ano em que o número de casos de dengue e de mortes provocadas pela doença foi recorde e em meio a um risco real de expansão da epidemia de nascimentos de bebês com microcefalia (má-formação que está fortemente associada ao zika vírus), o Brasil não dispõe de uma arma essencial para o controle do mosquito vetor das duas doenças: o larvicida. Documento obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo do Ministério da Saúde e encaminhado para secretarias estaduais admite a falta do insumo e aconselha as administrações a fazer remanejamento dos estoques entre cidades e Estados. O documento, datado de setembro, previa que o problema estaria resolvido até outubro, algo que não ocorreu.
“Aqui não tenho um grama desse larvicida. Como vou fazer prevenção nas regiões onde há racionamento de água?”, questiona a gerente de vigilância ambiental de Campina Grande, Rossandra Oliveira. Na cidade, de 412 mil habitantes, nasceram nos últimos meses 10 bebês com microcefalia. Há também 11 gestantes que já tiveram a síndrome do feto diagnosticada.
A má-formação, até agora considerada rara, atingiu níveis epidêmicos no País, 399 casos. A maior parte registrada nos últimos três meses. A principal suspeita é a de que o fenômeno tenha sido provocado pela infecção da mãe pelo zika. Como adiantou o jornal O Estado de S.Paulo, em dois fetos da Paraíba foi identificada a presença do vírus, transmitido pelo Aedes aegypti.
O larvicida é usado para combater criadouros instalados em água limpa, como poços e baldes. “As pessoas não guardam água porque querem. Elas são obrigadas, em razão do racionamento”, argumentou Rossandra, que se diz de mãos atadas para fazer boa parte do combate ao mosquito da dengue. O município passou a receber um quarto da demanda de larvicida em julho. A justificativa para os atrasos foi problemas na aquisição do insumo, feita pelo Ministério da Saúde.
Além de Campina Grande, o problema é encontrado em outras cidades da Paraíba. De acordo com informações da Secretaria de Saúde do Ceará, parte dos municípios também não dispõe do insumo. Já a Secretaria de Pernambuco, Estado que concentra o maior número de casos de microcefalia, o problema começa aos poucos a ser resolvido. A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde informou que remessas chegaram e que a distribuição para algumas cidades começou a ser feita.
O Ministério da Saúde, por meio de nota, informou que o larvicida não é a principal forma de combate ao Aedes aegypti. De acordo com a pasta, o insumo somente deve ser usado quando não é possível remover ou eliminar os criadouros por meios mecânicos ou físicos. “A população também tem um papel fundamental no processo de prevenção e controle da dengue, como a eliminação de recipientes que podem acumular água e servir de criadouro para o mosquito”, disse a nota. De acordo com ministério, 15 minutos por semana são suficientes para que famílias façam vistoria.
“Esses conselhos são de fato importantes. Mas eles têm eficácia limitada em caso de seca, de racionamento”, completou Rossandra. De acordo com o Ministério da Saúde, serão enviadas até o fim do mês 20 toneladas de larvicida até o final de novembro. Está previsto o envio de mais 40 toneladas em janeiro de 2016 – o suficiente para a demanda do Brasil durante o verão.