Política

LAVA JATO – Doação da Odebrecht por Caixa 2 foi tratada dentro do gabinete de Almeida

Dois representantes da empreiteira Norberto Odebrecht estiveram no gabinete do então prefeito Sebastião Almeida, que recentemente trocou o PT pelo PDT, em meados de julho de 2012, para tratar dos detalhes de uma doação para a campanha dele à reeleição. É o que mostram dois vídeos, que o GuarulhosWeb teve acesso, com os depoimentos dos ex-executivos da construtora, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis e Guilherme Pamplona Paschoal, que aparecem como delatores da Lava Jato. 
 
Os dois delatores contam que estiveram cerca de uma hora sentados com Almeida fazendo as tratativas necessárias para acertar o valor que, a princípio, seria de R$ 1.250.000,00, mas chegou a R$ 1.750.000,00 de doação via Caixa 2 para o candidato do PT. 
 
Paschoal, em depoimento gravado em vídeo à Procuradoria Geral da República, que incluiu Almeida entre os investigados pela Operação Lava Jato, contou detalhes da relação entre a Odebrecht e o então prefeito de Guarulhos. Ele explicou que era o encarregado de identificar municípios com potencial para a construtora operar. “As doações tinham que ser via caixa 2 porque nós, como possíveis prestadores de serviço, não podíamos fazer de forma oficialmente. O Fernando me instruía, eu ia ao candidato, informava o valor e o interesse da empresa”. 
 
No caso de Guarulhos, conta que os dois foram recebidos por Almeida dentro de seu gabinete. “Nós sentamos em poltronas. O prefeito puxou uma cadeira para ficarmos mais perto. Ficamos cerca de uma hora com ele. Mas a maior parte do tempo, uns 45 minutos, falamos de amenidades, situação política no Brasil, entre outras coisas. Somente no final, tratamos dos detalhes da doação, que seria de R$ 1.250.000,00”, revelou. 
 
Segundo Paschoal, Almeida se mostrou favorável às condições e aceitou a contribuição. “Em momento algum ele pensou em dizer não. Ele não disse não”, enfatizou. Ainda segundo o depoente, o prefeito informou que, a partir daquele momento, as tratativas passariam a Garreta (Valdemir Garreta), um marqueteiro que atendia ao PT, em São Paulo”. 
 
Almeida, nas planilhas da Odebrecht, aparecia com o nome de “Sumido”. O depoente afirmou que não sabia o motivo, mas que no sistema da empresa apareciam os pagamentos de duas parcelas. No entanto, a investigação da Procuradoria chegou ao total de R$ 1.750.000,00 pagos em três parcelas, nos dias 8 de agosto (R$ 500 mil), 27 de setembro (R$ 500 mil) e R$ 750 mil (25 de outubro). Paschoal informou que os R$ 500 mil a mais devem ter sido em decorrência de Guarulhos ter segundo turno naquele ano. 
 
Os pagamentos foram feitos pela Odebrecht a Garreta, que esteve no prédio da empresa, no 11º andar do edifício Eldorado, em São Paulo, depois que Guilherme já tinha tudo acertado por parte de um diretor  da empreiteira, chamado Eduardo Barbosa, que passava em um pedaço de papel o endereço, a data, a hora e uma senha para receber os valores. 
 
O interesse da Odebrecht
Paschoal revelou que Guarulhos despertou o interesse da empreiteira por vários motivos. “É uma cidade com mais de um milhão de habitantes, dentro da região metropolitana, com 5% do esgoto tratado à época, aparecia como principal poluidora do rio Tietê, tinha um TAC assinado com o Ministério Público Ambiental para tratamento de esgotos. Ou seja, tinha um grande potencial para a Odebrecht”. O depoente revelou que o Fernando Reis já tinha feito doações a Almeida em 2008. “Eu não participei. Mas ele disse que já tinha ajudado no primeiro mandato”. 
 
Durante o depoimento, Paschoal frisou que a Odebrecht tinha grande interesse no Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) de Guaruhos. “O propósito era fomentar a PPP (Parceria Público-Privada) do esgoto. Nós queríamos contribuir com o formato licitatório, para fazer uma boa proposta para ganhar. Nós tínhamos grande interesse em ganhar”, reafirmou. 
 
No encontro com Almeida para acertar a doação via caixa 2, os representantes da Odebrecht pediram que o prefeito pudesse dar sequência aos estudos para implantar a PPP, além de fomentar a ideia de privatização da autarquia municipal de água e esgoto. “No entanto, nós sabíamos que esse seria um processo difícil, já que a privatização não era bem vista”, contou. 
 
Apesar das doações à campanha de Almeida, a Odebrecht – que deixou claro o interesse em ganhar a licitação – acabou por não participar do certame, vencido posteriormente por um consórcio liderado pela OAS. “Não participamos do processo de licitação. As garantias da PPP não atendiam nossos interesses. Nós queríamos que o Saae desse como garantia as contas de água. Mas como eles recusaram a nos atender, nós nem participamos”.
 
Paschoal revelou que se reuniu com a presidência do Saae (ele não se recordou no do nome do interlocutor) para tratar dessas garantias. “Mas eles se mostraram irredutíveis. Todo o processo técnico para a contratação foi feito pelo Saae de Guarulhos, que é uma das melhores autarquias do Brasil em termos de capacitação técnica”.  
 
Outro lado
 
Em nota enviada à imprensa e que o GuarulhosWeb teve acesso, a assessoria de Sebastião Almeida afirma que “as contas de todas as campanhas que disputou em sua vida foram analisadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral”. “Em todos esses casos, as doações foram feitas respeitando a legislação em vigor, que na época permitia a contribuição de pessoas físicas e jurídicas, ou doações do próprio partido, por meio dos comitês nacional, estadual e municipal”, afirmou a nota. 
 
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