O álbum que o cantor Sérgio Reis, 81 anos, iria lançar com várias participações especiais foi cancelado. A informação foi confirmada ao <b>Estadão</b> na tarde desta quarta, 25, pelo filho e produtor do sertanejo, Marco Bavini. Ele respondeu aos questionamentos do jornal escrevendo o seguinte: "Era um CD e parei o trabalho. Eu que gravei, escolhi o repertório e vinha produzindo há muito tempo, inclusive. Meu mundo é musical e o trabalho saiu desse ambiente. Então, parei o projeto. Não tive escolha. Não existe mais".
Ainda sem nome definido, o álbum era pensado por Bavini desde antes de Sérgio completar 80 anos. Seria um projeto especial para homenageá-lo. Mas, depois das imagens e dos áudios em que o cantor apareceu ameaçando magistrados do Supremo Tribunal Federal, o que o levou a ser investigado por incitação à violência e ameaça contra a democracia, tudo mudou. A debandada de artistas convidados do projeto começou com a desistência do compositor Guarabyra, que prefere não mais se manifestar. Ainda assim, na tarde de ontem, ele enviou uma mensagem à reportagem: "O que fiz foi simplesmente declinar da gravação em razão da convocação de Sérgio Reis a atos de violência contra instituições democráticas.
Não tenho interesse em alimentar a celeuma causada pela repercussão. Primo sempre pela discrição, não gosto de aparecer na TV, dou poucas entrevistas, e não quero dar justificativa para que julguem que minha ação objetivava ganhar presença na mídia. Espero que entenda". Depois de sua saída, outros três artistas anunciaram que não participariam mais do projeto: Guilherme Arantes, Maria Rita e Zé Ramalho. A cantora Paula Fernandes foi a única a anunciar que ficaria. Sua assessoria de imprensa foi procurada pelo jornal na tarde de ontem, mas não se manifestou até o fechamento da matéria.
Com o fogo alto, o filho de Sérgio decidiu cancelar o projeto. O linchamento público a seu pai começa a ser comparado, evidentemente com as ressalvas feitas às diferenças de contexto de um mundo pré-digital, à execração vivida pelo cantor Wilson Simonal, afastado dos palcos, dos círculos artísticos e dos contratos publicitários pela suspeição de que era um colaborador de agentes da ditadura.
Bavini diz não temer que Sérgio tenha o mesmo destino. "Ele tem 128 (registros entre) LPs, CDs, etc. gravados. É, no Brasil, a pessoa que tem mais fonogramas gravados. Antes, se não me engano, eram Luiz Gonzaga e Nelson Gonçalves. Sendo assim, meu pai não tem que temer nada nem se preocupar com esse tipo de situação. Na minha opinião, claro." Quanto à presença de outros artistas no álbum, pessoas que não se manifestaram, Bavini prefere não informar quais seriam. "Eu não posso ficar fomentando isso, dando mais nomes."
O estrago provocado pelo caso Sérgio Reis já atingiu também pessoas próximas a ele. Uma entrevista feita pelo jornalista Roberto Cabrini, exibida no programa <i>Domingo Espetacular</i>, da TV Record, mostrou o cantor pedindo desculpas e recebendo uma mensagem amigável do vizinho, o cantor e compositor Renato Teixeira, no instante em que a matéria era gravada e momentos depois de o artista reclamar da falta de manifestação dos amigos. "O Roger (do Ultraje a Rigor) foi o único a mandar mensagem de solidariedade", disse, em outro momento, depois de reclamar que já haviam "caído quatro shows e cancelados dois comerciais". A mulher de Sérgio, Ângela Márcia, apareceu lendo a mensagem que, afirmou no ar, havia sido enviada por Renato Teixeira: "Fique cuidando pra valer de sua saúde e aguarde o tempo limpar a área".
Fontes próximas a Renato disseram que a rápida menção a seu nome na reportagem já ameaça "mexer com a sua agenda". "Ele está p… Isso já está balançando a agenda de shows. É uma questão muito complicada." O artista foi procurado pela reportagem, mas seus interlocutores disseram que ele não se pronunciaria sobre o caso.
Por outro lado, há notícias de que artistas que se retiraram do álbum também têm sofrido ataques de bolsonaristas simpatizantes das atitudes violentas contra o STF pregadas por Sérgio Reis. Guilherme Arantes é um deles. No momento em que trabalhava a divulgação de seu mais recente álbum, o premonitório A Desordem dos Templários, suas redes foram tomadas por ataques pesados depois que ele decidiu sair do álbum de Sérgio Reis.
O cantor Sérgio Reis apareceu no programa da Record acamado, alegando piora de seu quadro de diabetes e, por algumas vezes, chorando ao lado da mulher. Ele alega estar arrependido de suas falas, pronto até mesmo para ser preso e dizendo que as maiores dores são sentidas ao pensar no afastamento de muitos dos fãs, citando com pesar um deles, que decidiu filmar a queima dos LPs de Sérgio Reis e colocar o vídeo nas redes sociais.