Hebe de Bonafini, a dona de casa que empreendeu uma luta atrás dos dois filhos e uma nora desaparecidos durante a ditadura militar argentina e se tornou uma das mais emblemáticas ativistas pelos direitos humanos, morreu ontem na Argentina aos 93 anos. A morte foi confirmada pela família e suas cinzas serão jogadas na Praça de Maio, onde se reunia todas as quintas-feiras com outras mães e avós que buscavam seus filhos e netos sequestrados pela ditadura.
<b>ATIVISTA</b>
Bonafini se tornou uma defensora histórica e ativista dos direitos humanos e foi um dos principais rostos da Associação Mães da Praça de Maio, que ajudou a fundar em 1977, dois anos após o golpe militar que colocou em prática o mais feroz aparato repressivo contra os dissidentes e deixou mais de 30 mil desaparecidos.
A organização ficou conhecida no mundo todo pela busca dos desaparecidos, incluindo crianças doadas a outras famílias para adoção durante a ditadura argentina. Estima-se que 500 crianças tenham sido separadas de suas famílias durante o regime militar.
A morte foi confirmada por sua filha Alejandra Bonafini, que agradeceu as manifestações de carinho recebidas enquanto ela estava internada nos últimos dias no Hospital Italiano da cidade de La Plata, província de Buenos Aires.
A ativista sofria de complicações derivadas de doenças crônicas que nas últimas semanas se agravaram consideravelmente, explicou o ministro da Saúde de Buenos Aires, Nicolás Kreplak. A última aparição pública de Bonafini foi em 10 de novembro, na tradicional marcha realizada todas as quintas-feiras pelas Mães da Praça de Maio em frente à Casa Rosada.
<b>LUTO</b>
O governo argentino decretou três dias de luto nacional e disse em comunicado que "se despede com profunda dor e respeito" daquela que é considerada uma incansável lutadora pelos direitos humanos, que "lançou luz na noite escura da ditadura militar".
A vice-presidente Cristina Kirchner, muito próxima da ativista, foi uma das primeiras a lamentar sua morte. "Queridíssima Hebe, Mãe da Praça de Maio, símbolo mundial da luta pelos direitos humanos, orgulho da Argentina. Deus te chamou no dia da Soberania Nacional… não deve ser coincidência. Simplesmente obrigado e até sempre", escreveu Cristina no Twitter.
<b>1ª MARCHA</b>
Como outras mães, Hebe María Pastor de Bonafini abandonou a rotina do lar e foi procurar os dois filhos e uma nora desaparecidos, militantes de organizações de esquerda. Diante da falta de respostas, ela e outras mães concordaram em se reunir em 30 de abril de 1977, na Praça de Maio, em frente à sede do governo, com a esperança de chamar a atenção do general Jorge Rafael Videla, então líder da junta militar que governou o país de 1976 a 1983.
Como na época vigorava o estado de sítio, que proibia reuniões de mais de três pessoas, um policial as mandou "circular", então elas começaram a contornar a Pirâmide de Maio, no centro da praça. Elas se reuniram no mesmo local na semana seguinte e desde então a marcha se repete todas as quintas-feiras até hoje usando o tradicional lenço branco na cabeça.
Em 2011, Bonafini foi acusada de irregularidades na gestão de fundos públicos destinados a um programa de construção de habitação social da Fundação Mães da Praça de Maio. A figura da ativista ficou manchada pelo escândalo que ainda não foi resolvido na Justiça. (Com agências internacionais)