Ao analisar as mensagens do líder de uma quadrilha que aplicava o golpe do Tinder em São Paulo, a Polícia Civil descobriu um elo do grupo com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Alisson Raphael Lino Porfirio, apontado como chefe da quadrilha, teria dividido os lucros da extorsão com Goiânia, o sintonia final do PCC, integrante da cúpula da facção.
As informações constam do inquérito que culminou na condenação de uma quadrilha, supostamente chefiada por Alisson, que atraía vítimas pelo Tinder para praticar extorsão mediante ameaça, emprego de arma e restrição de liberdade das vítimas. O grupo criou Maria Clara, fantasia virtual para atrair incautos a encontros de amor.
A sentença impôs 18 anos de prisão a Alissaon e tem como base o caso de um homem de 48 anos que passou três dias em cativeiro na zona Leste de São Paulo no início de outubro de 2022. A quadrilha tomou R$ 220 mil da vítima, além de um carro e outros bens.
Alisson foi preso em flagrante no dia 14 outubro de 2022 quando usava o cartão de uma outra vítima de extorsão. Na ocasião, ele e um cúmplice foram surpreendidos em uma casa não só com o cartão, mas com extratos bancários de movimentações feitas a partir das contas da vítima, cinco máquinas de cartões, celulares, uma máscara do Hulk e uma máquina de choque elétrico.
No celular do detento, a Polícia encontrou uma conversa em que Goiânia, interlocutor do líder da quadrilha do golpe do Tinder, se diz sintonia final dos EUA.
Segundo os investigadores, a menção ao país está ligada às divisões territoriais do PCC. Já a sintonia final corresponde à cúpula da organização criminosa, que decide sobre temas mais sensíveis à facção, inclusive o julgamento e morte de desafetos.
As mensagens apreendidas no celular de Alisson foram transcritas pela Polícia Civil em 55 páginas. O interlocutor Goiânia ainda não foi identificado, mas, segundo o inquérito, foi com ele que Alisson manteve tratativas, em tempo real, sobre o sequestro que levou à condenação assinada na terça, 4.
Nos diálogos, os dois negociam armas, entre eles um fuzil vendido por R$ 55 mil e uma pistola comercializada por R$ 16 mil. Ainda são trocados comprovantes de transferência, inclusive entre contas de outros integrantes da quadrilha do golpe do Tinder. Também foi para Goiânia que Alisson enviou registro de tela do perfil falso que ele criou no aplicativo de relacionamentos, em nome de Maria Clara, para atrair vítimas.
As conversas mostram ainda, segundo a Polícia, que Alisson contratou Goiânia, no dia 2 de outubro de 2022 – dia seguinte ao sequestro da vítima de 48 anos. Na mensagem, o réu diz ao líder do PCC que tem um trampo, oferecendo 30% em troca de contas de empresas para o recebimento dos valores extorquidos. Goiânia aceitou a oferta.
Posteriormente, eles trataram da distribuição dos valores nas contas e da emissão de boletos que seriam pagos através das contas bancárias da vítima. Também fizeram uma chamada de vídeo e trocaram o comprovante de transferência a partir da conta do homem de 48 anos. Além disso, discutiram a capacidade financeira para recebimento de valores extorquidos, que seria de R$ 2 milhões, segundo Goiânia.
Em meio a uma conversa sobre valores e porcentuais de divisão de lucros, Alisson enviou três áudios a Goiânia. Em um deles, o suposto líder da quadrilha do golpe do Tinder afirma: "Goiania, ce é malandro velho, ce tem entendimento do crime, não é à toa que ce é PCC, se não os caras não iam te colocar à toa no corre, não, tá ligado, meu mano?".
Os investigadores resgataram outras conversas do celular de Alisson. Em um diálogo ele trata com outro investigado do arrebatamentos de vítimas, do aliciamento de novas contas bancárias para recebimento dos valores extorquidos, do saque em caixa eletrônico dos valores, sua distribuição em espécie e também em transferências PIX.
Nesta sequência de mensagens, Alisson se refere ao homem de 48 anos que havia sido sequestrado, se referindo ao caso como trampo de S. Ele afirma que "Bico tá lá amarradinho". Em outro momento, o líder do grupo diz que trata-se de um trampo de Tinder.