Raimundo Nonato Silva de Oliveira, de 46 anos, um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região do Bico do Papagaio, no extremo norte do Tocantins, foi morto a tiros na madrugada de terça-feira, 13, enquanto dormia ao lado da namorada em Araguatins, a 600 quilômetros de Palmas. Cacheado, como era conhecido, era filho do camponês Francisco Saraiva de Oliveira, assassinado quando ele ainda era criança, o que motivou seu ingresso na luta popular, segundo o MST.
O líder recebeu diversos tiros disparados por três homens encapuzados que invadiram a residência, na Vila Cidinha, conforme divulgou a Polícia Militar, com base no relato da mulher. Não há informações sobre a motivação do crime. A Secretaria da Segurança Pública do Tocantins afirma que a 11ª Delegacia de Polícia de Araguatins abriu investigação que está na "fase de levantamento das informações".
De acordo com Antônio Marcos, responsável pela área de Direitos Humanos do MST Tocantins, Cacheado sobreviveu a diversos atentados entre 2000 e 2015 e era "perseguido". "Ele sofria ameaças de pistoleiros, fazendeiros, da própria polícia do município e foi uma liderança que teve sua vida, a sua trajetória criminalizada, passou a vida toda respondendo a ação penal e criminalizado, ameaçado, pelo latifúndio na região", afirmou.
Uma das ações está em curso há décadas. O Ministério Público em Araguatins acusa Cacheado de ter invadido a Fazenda Santa Hilário, pertencente a fazendeiros do Maranhão, na margem do Rio Araguaia no Tocantins, entre 2003 e 2006. Segundo o processo, ainda sem julgamento, ele teria furtado gado, ferramentas e expulsado funcionários na ocupação do imóvel, que virou o assentamento Alto da Paz. Neste local, Cacheado escapou de um atentado em que houve mortes. O episódio o levou a ficar anos afastado do movimento, segundo o MST Tocantins.
A Defensoria Pública do Estado afirma, em nota, que a morte de Cacheado "representa uma grande perda para os movimentos sociais do Tocantins" e para o órgão, que "perde um importante parceiro popular na luta pela defesa dos direitos de todos e todas, especialmente em suas atuações coletivas em defesa de trabalhadores e trabalhadoras rurais e de comunidades que vivem em assentamentos".