Poeta desde a juventude, observador arguto da política brasileira e internacional, Ferreira Gullar se manteve produtivo até o fim da vida. Mesmo internado na UTI do Hospital Copa DOr, no Rio, em decorrência de problemas pulmonares, deixou inéditas três crônicas, escritas à mão ou ditadas à sua mulher, a poeta Cláudia Ahimsa, para serem digitadas por sua neta Celeste. Uma aborda a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA; outra revisita um texto seu de 1989, O Frango Tite; e uma analisa a relação entre arte e tecnologia.
Gullar morreu na manhã de domingo, 4, em decorrência de uma pneumonia, aos 86 anos. O enterro foi no mausoléu da ABL, no cemitério São João Batista. Amigos da literatura, da música e da militância política, além da família, foram se despedir. Entre eles, estavam os ministros da Cultura, Roberto Freire, das Relações Exteriores, José Serra, e da Defesa, Raul Jungmann; além de cantores, compositores, produtores de cinema, cineasta e também acadêmicos.
A viúva contou que Gullar manteve a lucidez mesmo com o agravamento de seu quadro. “Achei que ele fosse sair logo do hospital, que depois iria contar tudo numa crônica. Acredito que o próximo texto seria sobre Fidel Castro, mas não deu tempo”, lamentou Cláudia, companheira desde 1994. “Ele era muito intenso e disponível. Um passarinho que cansou de voar.”
Para 2017, há vários lançamentos programados, todos preparados por Gullar. Pela Companhia das Letras, que abriga desde o ano passado sua obra poética e ensaios, sairão novas edições de A Luta Corporal (1975) e Na Vertigem do Dia (1980). A Bazar do Tempo lançará Os Desastres da Guerra, colagens e poemas.
A Autêntica publicará coletânea de seus textos sobre arte que saíram na imprensa nas últimas décadas. A editora lança também reedição do livro infantil Dr. Urubu e Outras Fábulas (2005). “Ele estava muito entusiasmado, sabia versos de cor”, lembrou Maria Amélia Mello, amiga que cuidou da obra de Gullar na José Olympio e desde 2015 atuava como sua agente. Em breve, ela contou, sairá também pela Autêntica uma nova tiragem do último livro inédito de Gullar, Autobiografia Poética e Outros Textos, uma autorreflexão sobre seu fazer poético.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.