O governo gerou uma nova insatisfação na Câmara no momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta melhorar a relação com os deputados, que têm reclamado do tratamento que recebem do Palácio do Planalto. Sancionada no dia 14 com 134 vetos, a Lei Geral do Esporte é mais um capítulo do mal-estar entre governo e parlamentares.
Nos bastidores, deputados falam em "sabotagem" do trabalho da Câmara e dizem ter estranhado o fato de apenas a relatora do projeto no Senado, Leila Barros (PDT-DF), ter sido chamada para a sanção do texto, ao lado de Lula e da ministra do Esporte, Ana Moser.
"Uma lei que foi muito discutida e debatida na Câmara, inclusive tendo comissão especial, com mais de 30 audiências públicas, com federações, atletas, árbitros, com a participação do Atletas pelo Brasil, que a própria ministra Ana Moser faz parte… A gente fica procurando onde teve tanto erro por parte do Congresso. Como você tem um veto de 134 dispositivos?", disse o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Esporte e relator do projeto de lei na Câmara.
"Ninguém da Câmara dos Deputados foi ouvido em relação a isso. A gente tentou equiparar a Lei de Incentivo do Esporte à Cultura. Achamos que o Esporte não tem que ter mais que a Cultura, mas também não tem que ter menos", afirmou Carreras.
Integrante da base do governo, Carreras lidera o chamado "blocão", a maior aliança formada na Câmara nesta legislatura. Com 173 deputados, o grupo inclui partidos como o PP do presidente da Casa, Arthur Lira (AL), o União Brasil, o PSB, o PDT e o PSDB.
Líderes do Centrão viram a cerimônia de sanção da lei, com a presença apenas da relatora no Senado, como um desprestígio à Câmara e chegaram a atribuir o "recado" do Planalto à proximidade que Carreras tem com Lira. O partido do deputado alagoano reivindica espaço maior na Esplanada, mais especificamente o comando do Ministério da Saúde, pleito que encontra resistências no entorno do presidente da República.
<b>Padilha </b>
A desconfiança maior do Centrão, nesse caso, é com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. A indicação da atual ministra da Saúde, Nísia Trindade, é atribuída ao petista.
Líderes da Câmara avaliam que uma gafe como essa poderia até passar batida por Lula, mas dizem que era papel de Padilha, responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso, alertar que o relator do projeto na Câmara também deveria ter sido chamado para a cerimônia de sanção.
Deputados desconfiam de uma retaliação de Padilha à cobiça do PP de Lira pela pasta de sua afilhada.