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Lembra do emo? Geração Z redescobre rock emotivo de bandas como The Maine, que toca em SP

Roupas xadrez, franja no olho e uma fala: "Mãe, não é só uma fase". Renovadas, bandas e artistas emos têm voltado ao cenário da música trazendo nostalgia aos fãs e conquistando os jovens. Depois de quatro anos, a banda The Maine desembarca no Brasil para fazer uma curta parada de shows em São Paulo nesta sexta-feira, 25, e no sábado, 26, no Vip Station, no distrito de Santo Amaro. Em entrevista ao Estadão, o vocalista da banda John OCallaghan contou sobre a volta ao país e o crescimento do grupo emo em todos esses anos.

Vindos do Arizona, nos Estados Unidos, o grupo de cinco norte-americanos iniciou sua carreira em 2007 e já lançou sete álbuns. Fãs e banda cresceram juntos em todos esses anos. Uma proximidade valorizada nos shows que sempre tiveram "meet and greets" (encontro nos bastidores) e, agora, com a festa após o show organizado pela Solid Music aqui no Brasil. "É incrível ver as pessoas que conhecemos há 16 anos se tornando médicos, professores, terem filhos", conta OCallaghan.

Falar sobre sentimentos e ser vulnerável não é fácil para todo mundo, mas o emo abriu uma janela na questão, explica a psicóloga Tanize Viçosa Cardoso e integrante do Programa de Educação Tutorial de Psicologia da Universidade de Brasília.

<b>Lembra do emo?</b><b>

O emo ou emocore nasceu na década de 80 em Washington DC, nos Estados Unidos. O som de punk misturado com melodias sobre amor e solidão chamou a atenção. Por volta dos anos 2000, o emocore já surgia no Brasil com bandas como Fresno e NX Zero. "O emo trouxe esse preparo para discutir sobre coisas que antes não eram faladas publicamente", aponta Tanize. Era o auge comercial do estilo.

Dez anos depois, as letras ainda fazem sentido para a geração Z, que fala cada vez mais sobre saúde mental. O Simple Plan virou hit no Tiktok durante a pandemia com a música "Im just a kid". A trend viralizou com usuários postando fotos de quando eram adolescentes.

Ansiedade, depressão, solidão são alguns pontos tratados pelas músicas. É uma forma de lidar com questões que muitas vezes você não consegue falar porque a cultura hegemônica prioriza a racionalidade, explica Cardoso.

Em tons de preto e branco, o último disco "The Maine" saiu no dia 31 de julho. Como compositor, John afirma não se sentir mais desconfortável em ser vulnerável e falar da vida pessoal em suas letras. "Esse disco teve uma ênfase em pensar: quais sentimentos queremos transmitir?", reflete. Pai de uma menina e esperando o segundo filho, aos 35 anos, o vocalista questiona: O quão cansado um adulto pode ficar?

<b>A volta do emo</b>

"As guitarras estão de volta", diz OCallaghan. Se antes era o drama de ser um adolescente, agora as letras emo trazem a realidade de ser um adulto. Para o vocalista, a cultura é cíclica, vai e vem, mas a volta de bandas desse gênero relembra o quão atrativo eram nas décadas de 2000 e 2010.

Hoje os fãs do gênero cresceram e revivem a nostalgia da juventude na volta de bandas como NX Zero, Restart e My Chemical Romance. Da geração Z, Olivia Rodrigo, em "Good 4 u", retoma o clássico de Paramore "Misery Business". Novas artistas, novas linguagens.

É uma troca entre gerações ligada à plataforma de vídeos TikTok, pensa a publicitária Isabella Barros, 26 anos, fã do gênero desde a adolescência. Agora como criadora de conteúdo sobre música com mais de 200 mil seguidores na rede social, Bells, como é conhecida, conta a história por trás de grandes hits da indústria. Para ela, as bandas se renovam e conquistam as novas gerações. "A onda emo está na nostalgia, mas criando músicas novas", destaca.

Entre dancinhas e sons de guitarra, amantes da estética emo encontraram uma comunidade na plataforma de vídeos. Julianna Prado, 30 anos, é criadora de conteúdo e compartilha sua rotina na conta que possui mais de 600 mil seguidores.. "Eu não me sentia encaixada naquele padrãozinho e queria ser diferente. Era diferente em uma cidade pequena", conta. Desde os 15 anos, Prado assume a estética emo.

O que se destaca no perfil da mineira são as cores escuras e os diferentes padrões de xadrez. Poder se vestir e se expressar dentro de uma comunidade mostra como a cultura emo sobrevive em diferentes áreas além da música. "O movimento me ajudou muito a construir a minha identidade", diz Julianna. Junto com o marido, Bruno Costa, e a filha, Luna, os looks do dia da família são em sua maioria compostos por coturnos, correntes e camisetas pretas. No seu aniversário de 30 anos, o tema era: Its not a phase (não é só uma fase).

<b>Serviço – The Maine</b>

Datas: 25 e 26 de agosto

Local: Vip Station

Endereço: Rua Gibraltar, 346, Santo Amaro – São Paulo, SP

Abertura dos portões: 18h

Hora do show: 21h

After Party: 23h até 04h

Classificação etária: 16 anos. Menores acompanhados pelos pais ou responsáveis.

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