Não foi à toa que Aracy Balabanian estreou na televisão, depois de ter trabalho no teatro com nomes como Oduvaldo Vianna Filho, Flávio Império, Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, representando a tragédia grega <i>Antígona</i>, de Sófocles, montada pela TV Tupi em 1964. Aracy era conhecida no meio teatral de São Paulo como uma atriz dramática.
O sucesso da montagem dirigida por Benjamin Cattan para o Teatro de Vanguarda da TV Tupi foi tanto que foi levada ao palco do Theatro Municipal de São Paulo. Foi a primeira vez que isso ocorreu, invertendo o caminho proposto pelo projeto exibido na TV.
Para muitos – culpa da generalização que a televisão provoca – , Aracy deve ficar na história como Cassandra, a sogra trambiqueira de Caco Antibes no humorístico <i>Sai de Baixo</i>. Para outros, como a mãe super protetora e para lá de engraçada Dona Armênia, personagem que a atriz representou com maestria na novela <i>Rainha da Sucata</i>. Dois papéis essencialmente cômicos que serviram de exemplo para mostrar seu talento múltiplo.
Entretanto, à Aracy cabe outra glória: a de construir na televisão mocinhas perfeitas – e as novelas não sobrevivem sem elas – que, ao sofrerem, criam empatia com o telespectador, que torce para que elas tenham o merecido final feliz.
Uma das primeiras delas foi representada por Aracy foi na novela <i>Antônio Maria</i>, exibida pela TV Tupi entre os anos 1968 e 1969. Com texto de Geraldo Vietri, a trama foi a primeira tentativa da televisão brasileira em nacionalizar o gênero telenovela, até então com textos calcados nos dramalhões mexicanos. Aracy enfrentou o desafio – e fez história – ao lado do ator Sérgio Cardoso, também oriundo do teatro.
Aracy fez outras tantas mocinhas ao longo da carreira. Passou as décadas de 1970 e 1980 atuando praticamente uma novela por ano. Em 1977, em <i>Locomotivas</i>, novela de Cassiano Gabus Mendes, lá estava Aracy dando vida à personagem Milena.
Solteira, Milena se apaixona pelo viúvo playboy Fábio, defendido por Walmor Chagas. Na história, a personagem precisou abrir mão do amor em nome da filha Fernanda, papel de Lucélia Franco, que também se apaixona por Fábio. Quando interpretou Milena, Aracy tinha 37 anos.
Em <i>Elas Por Elas</i>, de 1982, Aracy foi Helena, uma mãe controladora capaz de manipular e até cometer crimes em nome do amor que sentia pelo filho. Era a personagem mais complexa da trama das sete amigas de colégio que se reencontraram depois de 20 anos de afastamento e, a partir disso, tinham suas vidas novamente entrelaçadas. A redenção veio nos últimos capítulos. O público foi condescendente e cúmplice de seu drama.
Na novela <i>A Próxima Vítima</i>, de 1995, exorcizou Dona Armênia de<i> Rainha da Sucata</i> ao viver Filomena Ferreto Giardini, uma matriarca italiana com ares de mafiosa em uma trama policial pioneira para o formato de telenovela. Aracy, mais uma vez, estava no bonde da história da novela brasileira.
Em sua última novela, <i>Sol Nascente</i>, do amigo Walther Negrão, levada ao ar em 2016, ainda teve tempo de viver uma mocinha da terceira idade, Geppina, uma italiana que veio ao Brasil ainda na mocidade fugindo de um mafioso. Com o amado Gaetano, papel de Francisco Cuoco, viveu um romance maduro que encantou o público.
Na história da telenovela brasileira, Regina Duarte monopolizou o título de a namoradinha do Brasil e as Helenas de Manoel Carlos sempre aparecem como os grandes personagens femininos da TV brasileira. Aracy Balabanian fez todas essas mulheres. Por isso, seu nome merece figurar de todas as listas de melhores atrizes brasileiras.