Um suposto levantamento sobre a vida do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pelos processos da Lava Jato no Rio, provocou mal-estar entre a Justiça Federal e o Ministério Público Estadual (MPE-RJ). Depois da divulgação, pelo jornal O Globo, da informação de que o magistrado acreditaria estar sendo investigado por “policiais e até gente do MP”, a Procuradoria Geral de Justiça confirmou ter levantado dados sobre o pai de Bretas. Ele seria locador de imóveis alugados pela instituição, e aquela seria uma checagem comercial de rotina, sem relação com o juiz.
Em nota, o MP informou que as pesquisas na base de dados do “Portal de Segurança da Seseg (Secretaria de Segurança)”, no ano de 2016, “bem como em nome das empresas das quais o referido senhor é sócio”, visavam a levantar informações para subsidiar “procedimento administrativo de locação, pelo MPE, de imóveis de propriedade do pesquisado, situados no município de Queimados”. Ou seja, o MP aluga imóveis do pai de Bretas e por isso fez pesquisas legais e de rotina sobre ele.
O órgão informou que “tal procedimento é rotineiro no Ministério Público e se realiza em todas as contratações efetivadas pela instituição”. Em outro ofício enviado a Bretas, o procurador-geral de Justiça, José Eduardo Gussem, fala da “perplexidade do MP” com a informação sobre “a suposta participação de membro da instituição em investigações ilegais a respeito do magistrado e seus parentes”. Também solicita o encaminhamento reservado de dados que possam ajudar na tomada de providências.
Bretas disse à reportagem que não atua nesta investigação. “Só posso confirmar que meu pai, de fato, aluga um imóvel para o MPRJ, já há vários anos”, afirmou.
Dossiês
Preso desde o novembro de 2016 e investigado em processos por Bretas, o ex-governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) foi apontado como suposto responsável pela pesquisa de informações que serviriam à confecção de dossiês contra o magistrado.
O caso estaria sob investigação da Polícia Federal. Envolveria um fundo milionário para financiamento das pesquisas clandestinas. A Polícia Civil anunciou que também investigaria o suposto envolvimento de policiais na confecção dos dossiês ilegais.
O próprio Cabral, em audiência na quarta-feira, dia 8, negou ao juiz ter ordenado a confecção de supostos dossiês. A defesa do ex-governador atribuiu essas informações a suposta tentativa de intrigar seu cliente com o magistrado.
Não ficou claro se as notícias sobre os supostos dossiês que teriam sido encomendados por Cabral teriam sido (erroneamente) originadas pelo levantamento do MPE ou se se trataria de dois episódios diferentes e realmente haveria um dossiê para atingir o juiz.